A ousia e o
tempo
O duplo laço: compreender o movimento dos auto-móveis inertes
A tese deste texto: o motivo do duplo laço, no contexto fenomenológico das ciências
contemporâneas, é proposto para substituir o par ousia / acidentes da Physica
de Aristóteles
Os duplos laços dos animais são mais complexos do que os das máquinas
Duplos laços duma tribo
Os duplos laços da linguagem
Duplo laço: tudo é indeterminado em seu movimento
P. S. Duplo laço e big
Bang
2º P. S.
1. A diferença maior entre as
ciências gregas e as europeias reside em que as primeiras foram formuladas por
Aristóteles a partir da definição que Sócrates inventara e que as nossas foram formuladas no século XVII a
partir da invenção do laboratório, de que o primeiro relato que temos duma experimentação é o de Galileu no Discurso
sobre duas novas ciências. Esta
diferença explica sem dúvida a exclusão consequente do aristotelismo do
pensamento europeu, pelo menos a partir de Descartes, mas ela contém igualmente
uma incompreensão de monta no que diz respeito às próprias concepções de
movimento e de causalidade que estão no coração da Mecânica de Newton. É disto
que vai ser aqui questão.
2. Quer a definição quer o
laboratório arrancam o fenómeno a definir ou analisar do seu contexto, dos seus
‘acidentes’, como condição de conhecimento geral, de essências num caso, de
leis do movimento no outro. Mas os Europeus estenderam o conhecimento ganho no
laboratório ao que se passa fora dele, na dita ‘realidade’, compreendendo esta
segundo um determinismo que é postulado pelas experiências (fragmentárias) levadas
a cabo – causa e efeito – que é o que justifica o conhecimento adquirido aos
olhos dos cientistas, sem se darem conta, nem os filósofos das ciências que eu
saiba, de que esta extensão para o contexto fora do laboratório pode ser
ilegítima, na medida em que se não avaliar a redução desse contexto operada
pelo próprio laboratório, nem se tenha em conta a integralidade do movimento do
fenómeno em questão. Sabe-se que a lei da gravidade se verifica no vazio
laboratorial, onde uma pena de ave cai ao mesmo tempo que uma bolinha de
chumbo, mas é imprevisível na atmosfera, onde joga a resistência do ar. Os
ditos “efeitos secundários” dos medicamentos, assim como as poluições que
devastam o planeta, são justamente efeitos nos contextos que o laboratório não
analisou. A questão, que tratei noutro congresso recente, é ‘porque é que as ciências
precisam de laboratório?’[1]
A definição da escola socrática, no seu momento platónico, também reduz o
contexto definido, como mostram as suas Formas ideais celestes, mas embora a
Idade Média tenha parcialmente platonizado Aristóteles, a diferença entre a sua
maneira de definir e a de Platão é crucial: o que o Estagirita define não é uma
‘coisa’ mas um movimento de coisas. É por isso que se pode vê-lo a definir, na Physica, quatro sentidos da ousia (substância / essência) e quatro sentidos
correlativos de aition (causa
ou motivo). Isto é, arrancando embora ao contexto o que é definido, isso só
é feito após se ter observado no contexto como é que ele se move.
3. Enquanto que o uso de matemática e de
instrumentos de medição no laboratório restringe o movimento a analisar ao
deslocamento no espaço e no tempo, o olhar de Aristóteles sobre o contexto
admite uma muito maior latitude da noção de movimento, distinguindo vários
tipos: por um lado as gerações e as corrupções, por outro as mudanças, a saber,
alteração das qualidades, crescimento ou diminuição da quantidade, deslocamento
segundo o lugar. A Physica de
Aristóteles é com efeito uma filosofia geral do ente enquanto capaz de
movimento[2]
e do que o causa, que definiu os motivos que as suas várias ‘ciências’
aplicaram à diversidade dos entes, vivos ou fabricados, políticos ou poéticos
(como a tragédia[3]), já que o
que provocou o seu grande espanto, o que está na base dessa Physica e da sua concepção da ousia, foi o haver coisas que crescem (em grego, phuô, donde phusis), que têm o movimento por elas próprias (kath’autôn), que são por si móveis, auto-móveis. Tendo
durado praticamente dois milénios, pode-se dizer que a Physica foi uma Filosofia com Ciências que lhes forneceu os motivos com que elas puderam pensar os fenómenos de
que se ocupavam. Tratar-se-á aqui de chamar Aristóteles a avaliar algumas
descobertas mais importantes das ciências actuais, a partir duma análise
fenomenológica que conta com Husserl, Heidegger e Derrida e com a dimensão
filosófica das principais descobertas das ciências do século XX[4],
procurando reconsiderar estes dois motivos clássicos do pensamento que os
Gregos nos deram, o movimento e a causalidade, tentando tematizar a relação teórica das nossas ciências ao contexto fora do
laboratório, recorrendo aqui às
categorias de Aristóteles, indagando do seu eventual cabimento heurístico e dos
seus limites[5].
A ousia:
compreender o movimento dos vivos como auto-móveis
4. Submetida ao devir, a phusis tem nela todavia ciclos temporais, quer dizer que
ela muda segundo repetições, razão pela qual Aristóteles poderá encontrar um
saber a respeito desse movimento. O motivo da ousia está no centro deste estudo sobre o devir físico:
se uma coisa muda, algo nela terá que garantir que continua a ser o mesmo ente
e algo que permita compreender a mudança, trate-se dum ser vivo, por exemplo o
ovo de que nasce um pintainho, ou duma estátua feita de bronze. É preciso, por
um lado, 1) um mesmo “sub-jeito”
ou “sub-estrato” (hupokeimenon) que seja garante da unidade e da individualidade do ente antes e depois duma mudança; do ponto de vista deste princípio, a ousia é dita hulê[6]: o que deste ovo permanece neste pintainho
(outros ovos darão outros pintainhos), o bronze antes e depois da escultura.
Por outro lado, a mudança implica dois
contrários: 2) um que dá um eidos segundo o
logos, uma ‘especificidade’ que
permitirá nomear, ou mesmo definir o ente (o
pintaínho e a estátua tais como
se ‘vêem’), 3) o outro que é a sua ausência ou privação (sterêsis) antes da mudança (o ‘não-pintainho’ no ovo, a
informidade do bronze). Sterêsis diria portanto a ousia ‘antes’ do movimento, o ir-se embora do (outro) eidos cessante, enquanto que eidos diria o novo
rosto da ousia – o que é
‘visto’ do ente e permite nomeá-lo, o que lhe é específico, por definição da sua espécie (galos e galinhas,
estátuas) – que conseguiu o movimento, a
mudança, e que subsistirá estavelmente enquanto morphê, esta dizendo tal ente, individualizado nos seus acidentes (este
pintainho, esta estátua).
5. Estes dois tipos de exemplos são
distinguidos nitidamente no início do livro II da Physica (192b8-23): os entes que o são “por natureza”, cujo
movimento se faz por “eles mesmos” (kath’autôn) – são os animais e as plantas, as suas partes e
os quatro elementos – e todos os outros, nomeadamente os objectos técnicos,
cuja mudança é devida a outros, mudam “por acidente” (kata sumbebêkos). Esta distinção é capital, porque a phusis define-se justamente
por ter o movimento e o repouso por si
mesma, ser o princípio dela e a ‘causa’ (aition), que se traduzirá talvez melhor por ‘motivo’[7].
Desenvolvido no livro II, ‘causa’ é dita também em sentidos diferentes, e
nomeadamente segundo os princípios deslindados anteriormente: em vez de quatro
causas, a causa em quatro sentidos. O
primeiro, o “a partir donde” (donde o ente vem), no qual ele é gerado principialmente (o bronze donde a estátua),
é dito causa segundo a hulê; o
segundo é dito segundo a especificidade, eidos, o logos (a definição); a terceira maneira de dizer a causa, que reenvia ao
“primeiro princípio da mudança ou do repouso” (aquele que tomou uma decisão ou o pai
duma criança)[8] e que merece
melhor o nome de ‘causa’, é kinoun (o movente ou
motor); enfim, a causa em-vista-da-qual, segundo o telos (a meta, o fim, o cabo), como um passeio em vista
da saúde. É nas coisas produzidas pela arte (technê) dos humanos que é mais fácil discernir estes
quatro sentidos (respectivamente: o bronze informe, uma imagem esculpida, a
arte do escultor, a estátua a ser colocada em
tal lugar para ser admirada), enquanto que para os vivos os motivos eidos e telos parecem mais ou menos coincidir.
Por outro lado, a ‘causa’ como motor introduz uma exterioridade problemática na concepção do movimento dos vivos, que é definido como
imanente ou por phusis.
6. Para compreender como se faz a passagem dum eidos que desaparece a um outro no mesmo ente,
Aristóteles tem que acrescentar a esta
quádrupla doação causal um outro par de motivos: dunamis[9], o ente enquanto podendo tornar-se tal, capaz de
mudar para tal, e entelecheia, o vir ao cabo (telos) dessa possibilidade, a qual entelecheia é dita por três vezes ser o movimento[10].
Logo de seguida (201b5-15), o exemplo do acto de construção duma casa é dito energeia (em-obra, ergon, efectuado), matiz de sentido em relação a entelecheia. Ora, no princípio do mesmo parágrafo, diz-se que “ser movido acontece a”, o verbo
‘acontecer’ (sumbainei) sendo a raiz de “acidente” (sumbebêkos): há acidentes porque há movimento imprevisível, portanto todos os entes sublunares os têm, mas os que existem pela arte dos humanos são inteiramente por acidente, ao invés dos entes
por phusis, aos quais o
movimento é imanente, kath’auto. Está aqui o que toca no essencial da física aristotélica: ela busca compreender o movimento dos vivos e é isso que a inércia de Galileu e de Newton excluirá, por sua
vez por razões essenciais à física deles.
A ousia e o
tempo
7. Que a ousia se diga em vários sentidos, implica que este pensador
que tanto se serviu da definição inventada por Sócrates o tenha feito todavia de maneira muito matizada (em relação aos seus
herdeiros ocidentais), aqui mais pela circunscrição da polissemia num leque de quatro sentidos e não pela sua
exclusão: ele deu de ousia uma
espécie de definição em constelação polissémica,
segundo as diversas maneiras em que ela se
aproxima de tal ou tal outro motivo, sem ter sentido necessidade de multiplicar
os termos para estas distinções[11].
Isso é notável no livro das Categorias. Estas obrigaram-no a marcar bem a distinção entre dois dos sentidos de ousia, tendo ele todavia guardado a mesma palavra: a
astúcia consistiu em, por um lado, adjectivar a ousia como primeira no sentido do ente individual, a ousia
como hulê-morphê, digamos (“este homem ou este cavalo”) e, por
outro lado, adjectivar como
segundas as espécies (eidê) e
os géneros (genei) “nos quais as ousiai tomadas no sentido primeiro estão contidas” (Categorias, 5, 2a10-16). O género e a espécie (ou diferença
específica) sendo as
duas componentes da definição do eidos, esta ousia segunda corresponde claramente ao que os latinos traduziram por
‘essência’, enquanto que a primeira corresponde à latina
‘substância’. No grego corrente, ousia designava as terras, os rebanhos, a residência, o que numa casa era
transmitido em herança, de geração em geração: era portanto o que permanecia o
‘mesmo’ da casa, enquanto as gerações mudavam. Foi sem dúvida por isso que
Aristóteles a tecnicizou para dizer a ‘substância’ (o que permanece o mesmo dum
animal ou dum humano no decurso das suas vidas) ou a essência (o que ele tem em
comum com os da sua espécie, assim definidos tal como ele).
8. Que a tradução de ousia se tenha imposto no mundo latino em dois nomes –
substância e essência – não deixou de ter consequências na compreensão do lugar
do tempo no pensamento do Estagirita. Duplamente. Por um lado, o tempo diz
respeito ao devir, ao movimento, de que ele é o número[12];
a ousia, ao mesmo tempo
substância e essência, implica portanto o tempo por ela mesma, essencialmente, é caso para dizer, visto que ela é pensamento da geração – da vinda de cada ente à presença, ou seja ao tempo presente aonde ela
durará até à sua corrupção, ao
seu desaparecimento – e também pensamento da mudança: alteração, crescimento e diminuição, deslocamento, tudo motivos essencialmente temporais. Ora, foi justamente a
temporalidade que impediu Platão de a pensar, fazendo dela um Eidos eterno, uma essência fora-do-tempo, que a definição
e o texto gnosiológico tinham arrancado ao seu contexto empírico. Por outro
lado, é no acidente –
categoria particular dum sujeito, que ele tem mas poderia não ter[13],
que, sendo um atributo estável de tal ente, lhe provém de algo que lhe ‘sucedeu’, como o seu próprio
nome indica – que será marcada a
condição temporal da ousia-substância
a que tal acidente aconteceu. Ora, estes acidentes que as narrativas e os discursos contam, sempre singulares, são subtraídos por eles mesmos ao conhecimento
filosófico ou científico, segundo os
princípios ou as causas: eles relevam
do contexto que a definição
largou. O motivo do acidente é
assim a articulação possível – instituída por Aristóteles – do texto
gnosiológico das essências intemporais às narrativas e aos discursos dos acontecimentos: se os acidentes são
acidentais, não há todavia ousia sublunar sem acidentes, a acidentalidade enquanto tal é-lhe essencial. Há pois em Aristóteles após Platão retorno às
coisas, mas tais como elas foram
definidas na sua capacidade de movimento. Mas este retorno apagar-se-á em parte
na tradição latina, onde, quer como
substância oposta a acidentes, quer sobremaneira como essência, a ousia se
tornará intemporal, cúmplice do eidos de Platão[14].
O duplo laço: compreender o movimento dos auto-móveis inertes
9. Todos os vivos somos auto-móveis,
sujeitos de reprodução, crescemos entre nascimento e morte, foi o que
Aristóteles pensou; mas não são assim as máquinas a que chamamos ‘automóveis’,
certamente devido ao espanto que provocaram quando apareceram no início do
século passado em contraste flagrante com coches e carroças puxados a cavalos.
Embora andem com velocidades muito maiores do que as dos nossos melhores
corredores, eles são inertes, feitos pelos humanos, acidentalmente, em terminologia
aristotélica. Sendo um objecto de engenharia que supõe várias regiões da física
e da química, poremos a questão de saber como é que, do ponto de vista do
laboratório, um automóvel – um inerte que se move – é pensado teoricamente. Ou
é pensado apenas empiricamente? A dúvida põe-se, já que na Física dos Europeus,
em vez dos vivos que se movem, encontramos bolas de bilhar inertes que chocam
uma com a outra, a que se move transmite movimento à que está parada. As coisas
no laboratório de Galileu e Newton são inertes: paradas ou em movimento
uniforme, só alteram essa situação por intervenção duma força exterior que a
acelere ou atrase. A quádrupla causalidade aristotélica deixa de ter cabimento,
os Europeus guardarão apenas essa força exterior como causa motora, ou eficiente.
Ela é invocada nas experiências laboratoriais, físicas ou químicas, que testam
as diversas peças dum automóvel, mas como compreender o movimento deste, que
tem entre as suas peças internas algumas que permitem travar ou acelerar? Como
é que a teoria global do automóvel
enquanto conjunto de peças destinado ao tráfego das estradas é pensada pelos
engenheiros? Há aqui um desafio: suponho que essa teoria permanece empírica.
Sem a poder desenvolver aqui, proponho uma abordagem fenomenológica que conta
com Husserl, Heidegger e Derrida e com as principais descobertas das ciências
do século XX (citação § 4). A resposta
tem que ser procurada antes de mais na cena do tráfego, no que ela pede como
manobras do movimento: acelerar e travar, virar à direita ou à esquerda, tendo
em conta o aleatório do
caminho a percorrer e dos outros carros ao redor. Obviamente que o desenho e o
cálculo das peças do carro é feito sempre em função desta lei do tráfego. E como se faz para ele andar? Aí, há um certo
conjunto de peças que dá força para o movimento, feito de cilindro e êmbolo,
gasolina e vela de ignição, conjunto de peças esse que tem que ser retirado de todo o resto das peças de regulação do movimento,
já que a explosão é perigosa, só obedece à lei termodinâmica[15] dos gases (entre volume, pressão e temperatura). Este conjunto é blindado em seu
retiro, ele merece bem o seu nome de motor de explosão, pondo o problema de a sua lei ser incompatível com a lei do
tráfego a que obedece o resto do carro, aquilo que se pode chamar o seu aparelho.
10. Teremos então uma definição de
automóvel[16] como concebido segundo duas leis incompatíveis
e inconciliáveis, uma,
termodinâmica, que rege o motor e corresponde à causa cinética aristotélica, a que causa o movimento, mas lhe é interna, auto-, embora
com combustível alimentado do exterior, e a outra que rege o aparelho e corresponde à causa final aristotélica, a que destina o carro na cena em
vista da sua direcção ou sentido. Dir-se-á que esta não é uma lei da Física; é
com efeito uma lei sociológica, mas donde provém a teoria que engloba todas as
experimentações de peças do carro segundo as leis da Física e da Química[17].
Quanto aos outros dois sentidos da causalidade aristotélica, a material corresponde às matérias primas de que são feitas
as peças do carro e a formal
ao conjunto que é a própria invenção dos engenheiros, actualizando-se constantemente
em novos modelos com o tempo.
11. Ora bem, os dois conjuntos de
peças (duas partes do carro) que distinguimos, o motor e o aparelho de que o
carro é construído, são concebidos, em sua autonomia relativa (retiro do
motor), como dois laços (ou ligações)
de peças antagónicos mas sem que nenhum deles tenha qualquer verosimilhança
sozinho, só foram pensados teoricamente e só existem um com o outro, formando um
só duplo laço: as duas leis
incompatíveis também são indissociáveis na unidade que é ‘um’ automóvel circulando na rua. Ora, o
que se passa com a ‘causalidade’ do aparelho é a conjugação das regras dele estudadas laboratorialmente com o aleatório
da circulação, o que será uma lei
geral dos aparelhos de circulação: obnubilados pela causa / efeito do
laboratório que herdaram da filosofia com a definição, os cientistas não
conseguem dar-se conta de que, de maneira geral, onde há regras, elas respondem
a situações aleatórias.
A tese deste texto: o motivo do duplo laço, no contexto fenomenológico das ciências
contemporâneas, é proposto para substituir o par ousia / acidentes da Physica
de Aristóteles
12. O que significa que é um motivo que se repetirá em
cada grande região científica, segundo o tipo de movimentos que se fazem nas
respectivas cenas, que os laboratórios repetem de forma circunscrita. O que
serão então, em cada caso, os ‘elementos’ que são enlaçados, que são ligados, à
maneira das ‘peças’ dum automóvel? Na cena da gravitação, a da história astrofísica e do planeta terra,
são como diremos em post-scriptum (§§ 27-30), primeiro laço, os dos protões e
neutrões do núcleo atómico pelas forças nucleares[18],
segundo laço, os graves sólidos, líquidos e gases que formam os astros ligados
pelas forças da gravidade; na cena da alimentação, a dos animais da evolução biológica[19],
primeiro laço, o das células ligadas (em órgãos) pela circulação do sangue que
as alimenta, segundo laço, neuronal, ligando órgãos dos sentidos, cérebro e
músculos no sistema da mobilidade; na cena da habitação, a da história das sociedades humanas, primeiro
laço, o dos vários usos duma unidade social (incluídos os humanos que assim
usam) ligados em paradigmas, segundo laço, politico, o dessas unidades locais
em sociedades maiores ou menores e seus regimes de troca e de ordem; na cena da
inscrição, nos limites da
história do saber ocidental, são as palavras feitas de letras alfabéticas em
frases ligadas por códigos textuais[20].
Em cada uma destas regiões é sempre o mesmo tipo de ‘coisa’, fortemente
repetitiva, que ocupa o lugar do que é retirado por via da lei incompatível com a da cena:
respectivamente o núcleo dos átomos, o ADN das células, o paradigma dos usos de
unidades locais humanas privadas, as letras do alfabeto. Embora de forma muito
limitada no que diz respeito à Física e à Química e com muitas diferenças nos
outros da ordem do singular, cada duplo laço segundo as leis da cena respectiva
garante ‘um’ composto, um mecanismo autónomo em sua unidade e temporalidade, em
seu “ser e tempo” (na linguagem de Heidegger, que redescobriu Aristóteles para
o nosso tempo): o que se pode chamar um mecanismo de autonomia com
heteronomia apagada.
Os duplos laços dos animais são mais complexos do que os das máquinas
13. Com efeito, o fenómeno do
auto-crescimento dos vivos, que fascinou Aristóteles e que a Biologia molecular
nos revelou na segunda metade do século que passou, só é susceptível de convir
à definição que demos de duplo laço fenomenológico, se este for descrito, no
que aos animais diz respeito, a três níveis que se desenvolvem uns a partir dos
outros: o das células, o sistema da alimentação delas pelo sangue (carregado
pelos aparelhos digestivo e respiratório) e o sistema da mobilidade, implicando
a caça e a defesa de ser caçado. (Incorro assim o risco de penetrar em
paradigmas científicos, dando atenção ao que, lendo a literatura de divulgação,
neles permanece de entrave filosófico, como se verá, sabendo sempre discernir
que ao laboratório a entrada nos é vedada.) O nível da célula exibe claramente
o retiro do ADN no núcleo como
condição da sua preservação de ser degradado nas transformações químicas do
metabolismo, como sucede ao ARN mensageiro que o repete na sintetização das
proteínas[21].
14. Ao nível geral do organismo dum
mamífero, por exemplo, a comparação com a máquina automóvel complica-se com o
fenómeno da alimentação e crescimento que a máquina ignora (o que o motor da
máquina pede de alimentação é apenas energia, força). O crescimento implica
que, no vivo que começa por ser uma única célula seminal, a alimentação, além
de energia, terá de ser também de moléculas de carbono que tornem possível a
duplicação de células propícias ao crescimento, mas também a substituição de proteínas
que se deteriorem devido à fragilidade da sua complexidade. De forma simplificada,
o sistema dos vários órgãos de alimentação (digestivos, respiratórios, circulatórios)
é enlaçado pela circulação do sangue que leva nutrientes e oxigénio a cada
célula. Para que haja comida, este sistema tem que servir de ‘motor’, através
de hormonas da fome, dar movimento ao sistema da mobilidade para que este cace
e tenha iniciativas de movimento na cena ecológica em que vive: o sistema
neuronal cerebral, enlaçando os diversos órgãos de percepção com os músculos
dos movimentos responde, como ‘aparelho’, ao motor hormonal que assim o
pulsiona à acção na cena ecológica onde ele foi gerado e se alimenta, a que
pois pertence, ser no mundo
(em termos de Heidegger, mas indo além dele). O sistema da alimentação faz
duplo laço com o da mobilidade,
este ‘aparelho’ na cena aleatória, aquele ‘motor’ retirado aquém da pele, já
que tanto o ADN como as hormonas, ‘endócrinas’, são ‘cegos’ para a cena:
provocando fome, não determinam o menu que depende do aleatório da cena[22].
Quais as duas leis que regem este duplo laço? A do ‘motor’ parece ser clara,
tem a ver com conseguir-se a sua auto-reprodução, a de todos os órgãos em suas
células. E a do ‘aparelho’? Como na cena do tráfego, trata-se de que todos os
animais têm que se auto-reproduzir e isso passa, para os carnívoros, por comer
herbívoros como para estes por comer plantas, as quais recebem por fotossíntese
as moléculas de carbono, glicose, necessárias às células de todos os vivos.
Esta lei pode ser chamada lei da selva e é indissociável da lei de auto-reprodução de cada vivo, a qual é obviamente incompatível com ela, sob
pena de vida ou de morte.
15. E a que corresponderão os outros
dois sentidos da causalidade aristotélica? O da materialidade é aonde reside a especificidade do movimento dos
vivos enquanto crescimento: a sua ‘matéria’ ser constituída pelo seu próprio
movimento de alimentação, mas este sendo de predação sobre a ‘matéria’ de
outros vivos, empenhando pois a finalidade do sistema da mobilidade, é a partir
dos ‘outros’ que se faz o kath’autôn da phusis: a hulê constrói-se elaborando o vindo de fora (kath’etherôn!) para se fazer kath’autôn o seu eidos, o que Aristóteles não pôde saber; ‘constrói-se elaborando’, isso faz-se
segundo a acidentalidade, o aleatório dos outros comidos. A causalidade
segundo a forma corresponde ao
conjunto dum vivo, duma planta e suas flores, dum animal vertebrado ou não, ao
que deles se vê e cheira e mexe fora do laboratório, nas cenas das selvas. É a
dimensão do animal que joga em cheio face ao outro grande sistema dos vivos, o
da sexualidade e suas hormonas de atracção[23],
onde nos humanos se desenvolveu todo o gosto da beleza dos corpos e dos seus
gestos, de dança e de amor, das artes que os reproduzem e cantam.
Duplos laços duma tribo
16. Limitemos aqui a análise dos duplos laços
sociais a uma tribo simples, composta do laço que formam as diversas unidades
de residência local, regido por uma instância de regulação política, à maneira
de conselhos de anciãos ou equivalente. Cada uma dessas unidades sociais por
sua vez enlaça os seus habitantes segundo as regras do paradigma dos usos
quotidianos (equivalente em todas) que se aprendem dos mais velhos e implicam
as tarefas de alimentação e protecção de mamíferos que inventaram a culinária e
outras técnicas de habitação. Difíceis de inventar mas mais ou menos fáceis de
aprender, esses usos são
inscritos no sistema de mobilidade (o que Changeux chamou grafos cerebrais) pela aprendizagem que torna cada um
hábil no seu executar espontâneo. Este laço interno à unidade local terá a ver
com o interdito do incesto que reserva para a exogamia as raparigas, o sistema
de parentesco assim instituído sendo o eixo do laço político entre todas as unidades
tornadas solidárias por uma aliança que funcionará mormente em situações
colectivas, iniciações, festas, funerais, caças ou pescas, e sobretudo guerras
com outras tribos. Sendo possível prosseguir as linhas das transformações
históricas resultantes da invenção da agricultura e da criação do gado, dos
artesanatos e da escrita, limitemo-nos aqui ao mais simples duplo laço social,
o que rege a vida quotidiana das unidades locais e ao que rege o conjunto
segundo as regras do parentesco.
17. Quais são as duas leis que regem estes duplos
laços sociais? A que rege o paradigma das unidades é simultaneamente ecológica,
depende da abundância de fauna e flora da região, dos trabalhos de caça e
colheita, e organizativa de forma autónoma, a ‘privacidade’ de cada unidade
sendo condição de trabalho sem ter toda a multidão da tribo às costas. A
auto-reprodução de cada uma implica que todas assegurem, à maneira dum ‘motor’,
a auto-reprodução da tribo, sendo que o aleatório de guerras ou outras
urgências implique a regulação do conjunto para garantir todos e cada um, já
que só sobrevivem em conjunto, as duas leis são indissociáveis. Quanto à sua
inconciabilidade, basta saber das constantes rivalidades entre unidades, como
aliás dentro de cada unidade – ‘quem pode mais?’ – para se ver como as regras
da privacidade são uma defesa elementar contra a balbúrdia generalizada.
Sucedendo à lei da selva que desenvolveu músculos e astúcias, as sociedades
humanas parecem ser regidas pelo que há que chamar lei da guerra.
18. Qual é a causalidade material aqui? Ela é
dupla: por um lado, as inscrições técnicas que são as próprias residências e
seus utensílios, por outro, os grafos que se inscrevem em cada indígena. Quanto
à causalidade segundo a forma, ela manifesta-se na ornamentação das casas e dos
corpos que a sublinham e procuram que seja melhor do que a dos vizinhos. E
colectivamente nas danças e festas.
Os duplos laços da linguagem
19. A linguagem, uso social
duplamente articulado que – juntamente com outros usos, diversos segundo as
geografias e os períodos da história, a que ela fornece receitas que permitem
aprendê-los – faz parte das ‘moléculas sociais’ que constituem os paradigmas
das unidades sociais como ‘células’ duma sociedade. A linguagem oral, estudada
pela Linguística estrutural iniciada por Ferdinand de Saussure, será o quarto
exemplo fenomenológico. Foi André Martinet quem propôs a dupla articulação como inerente à linguagem oral (e ao alfabeto)[24],
entendendo logo que ela se adequava admiravelmente à biologia dos humanos, quer
ao seu sistema de fonação, quer ao sistema cerebral. Com efeito, as nossas
gargantas não são capazes de fazer de forma suficientemente distinta mais do
que algumas dezenas de sons elementares, os que catalogamos entre vogais e seus
acentos, consoantes, ditongos, fonemas orais ou letras escritas: donde que
esses elementos não possam servir para designar o que quer que seja, sob pena
de se esgotarem num ápice. O truque então foi o de retirá-los da comunicação e compor com eles palavras para se
dizer receitas, contar mitos e outras histórias, conversar indefinidamente com
alguns milhares de palavras que facilmente decoramos nos nossos cérebros. As
palavras são assim duplamente enlaçadas, ligando fonemas e letras para se
constituírem e sendo ligadas em frases de discursos e de textos para terem
sentidos concretos, segundo o aleatório da cena, de habitação ou de inscrição,
do que há que dizer ou escrever, como qualquer conversa ilustra, nunca se sabe
o que o outro vai dizer e a que haverá que responder.
20. A linguagem é pois um uso,
variável com os povos, que se aprende de outros indígenas, como se de uma
alimentação se tratasse mas ao invés das predações, já que para criar redes de
relação comunitária, embora susceptíveis de zangas e conflitos. A causalidade
em sentido motor é dita pelo termo ‘pressão’, quer quando se fala de ‘expressão’,
a voz que é ex-pressa, pressionada para fora, para outrem ouvir, quer de ‘impressão’,
como os nossos dedos com caneta e tinta ou no teclado das letras e dos números,
pressionando um material que se preste à leitura. Esta causalidade motora joga-se assim como voz, laço de sons entre garganta e boca e ouvidos do
outro, como letra num laço de
riscos entre mãos que escrevem e olhos que lêem. Mas ela obviamente que não é
suficiente, já que um estrangeiro nem compreende o que é dito nas frases que
ouve nem o que vê em linhas escritas, crendo embora que aquilo tem ‘sentido’,
não o capta. Este releva então do outro laço, o do discurso (texto), cujo sentido é o que quem fala ou escreve
propõe comunicar, a sua finalidade, seja resposta dada, seja questão posta a outros. Enquanto que as regras
da fonologia regem a constituição das palavras, as relações diferenciais dos
fonemas entre eles nas vozes motoras das falas, enquanto que as regras da
sintaxe, morfologia e semântica[25]
regem o jogo das diferenças entre palavras na frase e no discurso (ou texto).
Quem fala é como que o piloto que governa a direcção das frases que vai dizendo
e as relações entre elas, segundo o aleatório das conversas, devendo essa direcção obedecer à lei da
verdade tribal que é inerente a
qualquer língua como condição de entendimento entre os interlocutores, que
modula por exemplo os verbos relativos ao ‘saber’ entre ignorância, dúvida,
erro, certeza, e por aí fora, que admite ficções mas não mentiras, a não ser
que estas ganhem a aparência de verdade. Esta lei da verdade tribal é
correlativa da lei de aliança gerada pelo sistema do parentesco, sem a qual
nenhuma sociedade sobreviveria.
21. Questão curiosa aqui, que
Aristóteles terá ignorado, presumo, é a da causalidade material das falas ou
dos escritos: será o ar em frequências sonoras ou o papel em que se escreve e
onde o escrito perdura? Os sons e os riscos? Sabe-se que de Saussure recusou
que os fonemas e as palavras consistissem nos sons que as vozes dizem e que por
isso mesmo diferem de falante em falante com a empiricidade das respectivas
vozes; para ele, a ciência linguística não retém como pertencendo à língua
senão as diferenças entre
esses sons, ‘significantes’ (diferenças entre fonemas) e ‘signifiés’
(diferenças entre palavras das frases). Mas propus sem esta hesitação que os
sons da voz sejam o ‘motor’ da fala: a causalidade de tipo material
distingue-se entre sons e significantes, sendo que estes – diferenças entre os
sons – não são ‘materiais? Curiosa questão que nunca se me pusera, há mais de
trinta anos que trabalho sobre estas questões e que foi a problemática aristotélica
quem me levantou. A resposta está em ambas, na indissociabilidade entre a fala
e a língua. A causalidade
material das falas, que as línguas não a têm fora daquelas, será então a
indissociabilidade entre os sons da voz e os fonemas significantes da língua nas frases de palavras feitas. E a causalidade formal
(do eidos) será o sentido
global do discurso (significantes e significados indissociáveis) em sua maior
ou menor verdade e beleza, mais claro por certo nos grandes textos de ficção e
de pensamento. Crucial como é a questão da causalidade em Aristóteles, como
aliás a gramática que dele se forjou utilizou as categorias dele – os
‘substantivos’ e as ‘substâncias’ – em correlação entre a palavra e o que ela
designa, percebe-se como foi necessária a Saussure uma inteligência de ruptura
com essa gramática e com a filosofia que ela transporta (exclusão do
nomenclaturismo pelo Curso de Linguística Geral).
22. O duplo laço da linguagem é então o que une fonemas em palavras na voz de cada falante e o que une as palavras em
sequências de frases de discursos (textos), o que dá força de falar e o que dirige
a fala como pensamento. Dois laços que são indissociáveis, como condição de os
falantes se entenderem na mesma língua, formam pois um só e duplo laço, voz e pensamento do discurso, mas também
inconciliáveis, como condição da liberdade de cada falante ao exprimir-se, que
pode rebelar-se de muitas maneiras contra a lei de auto-reprodução da sua
língua, mentindo por exemplo trivial e, por exemplo nobre, fazendo poemas,
inventando metáforas e outras figuras poéticas e retóricas não acolhidas pela
língua e pela cultura, escrevendo ficções e pensando coisas novas com as palavras
dos outros (Manuel Gusmão). Mas não só; cada um de nós que aprende a falar no dia a dia fá-lo sempre à sua maneira
que cria idiossincrasias que se estabilizam num estilo inédito, só possível pela inconciliabilidade das
duas leis, pela resistência oferecida aos próprios mestres que nos ensinam,
pela aprendizagem da palavra crítica. Este enigma entre uma lei social e uma
lei individual indissociáveis e inconciliáveis constitui a essência da nossa
liberdade e habilidade, a nossa sociabilidade intrínseca.
Duplo laço: tudo é indeterminado em seu movimento
23. O que é que nos ensina esta comparação com a
concepção aristotélica do movimento, que a modernidade europeia considerou caduca?
Que se tratou nesta duma miopia sobre os entes vivos nomeadamente, sobre a sua
posição nas cenas da dita realidade, miopia essa que resultou do deslumbramento
provocado pelas descobertas permitidas pela invenção do laboratório, por seu
lado positivo, mas também, negativamente, pela incapacidade logocêntrica
(Derrida) de compreender a necessidade desse laboratório para reduzir o contexto dos fenómenos analisados. Ora foi
nesse contexto que as análises fenomenológicas aqui esboçadas se fizeram. Ou
seja, os cientistas tomaram o que se passava no laboratório como ‘conhecido
cientificamente’, transponível sem mais na realidade extra-laboratorial: em terminologia aristotélica,
reduziram-lhe a acidentalidade para reter apenas o essencial no laboratório e
que esse essencial seria universalmente válido lá fora em qualquer contexto[26].
Sucede no entanto que as operações de laboratório são sempre fragmentárias, há
que as multiplicar segundo aspectos vários e depois compor esses fragmentos
numa ‘unidade’, para poder chegar a teorias relativas aos entes de tal espécie (graves,
vivos, discursos, máquinas), como aqui se tentou mostrar fenomenologicamente.
24. Dado que todos esses entes são susceptíveis de
movimento (ou de serem movidos), o que é que se mostrou no que diz respeito à
causalidade desse movimento? Que este exige um duplo registo entre ‘motor’ – repetitivo e interno, retirado da cena de movimentação que ele ignora e a que dá
a força (e a substância) de se mover – e ‘aparelho’, que se adequa ao aleatório
dessa cena, segundo as regras que os cientistas descobrem. Grande novidade que
parece ainda por saber, as ciências tornaram possível conhecer as regras do que se chama habitualmente ‘realidade’,
‘ambiente’, conhecer as cenas de circulação dos entes segundo os quatro grande níveis que
enunciámos acima (§ 12), sem que os cientistas pareçam dar-se conta de que todo
o alcance dessas regras é função das circunstâncias aleatórias das cenas da
dita realidade, sem dúvida porque obnubilados pela causalidade de tipo cinético
que rege a experimentação laboratorial. Este ‘aleatório’ mais não é do que
aquilo que, desde Aristóteles, se pensou como acidental, que esta
fenomenologia, filosofia com ciências, mostra agora
ser algo a que respondem as regras dos aparelhos de cada tipo de ente: tal como no automóvel, as regras
que as ciências descobrem visam essencialmente as situações aleatórias da cena (e é por isso que este motivo deve substituir o
genérico e inerte ‘realidade’, ‘ambiente’). Cada ente é um mecanismo
autónomo[27] sujeito a duas leis, uma que dá força aos seus movimentos (e substância),
outra que lhe confere sentido, direcção, finalidade.
25. É a definição de Aristóteles que é assim tornada caduca, a sua
oposição entre essência ou substância e acidentes (que nós continuamos a usar
muitas vezes), ou seja a oposição entre o ser e o tempo e entre ser e mundo
(contexto exterior). Percebe-se que Heidegger passou por aqui. Como se disse, a
definição arranca o fenómeno definido ao seu contexto, deixa a estes os
‘acidentes’ por conhecer e define apenas o que assim isolou: eis que se
justifica que o pensamento ocidental tenha sempre privilegiado o ‘dentro’ sobre
o ‘fora’, a interioridade sobre a exterioridade, o ser sobre o seu contexto. Até
à viragem iniciada por Ser e Tempo. Ora, o duplo laço é a
caracterização do ente que se move como ligado por duas leis, uma que – rege o
‘motor’ – lhe dá o movimento vindo de ‘dentro’ e a outra que – rege o
‘aparelho’ – dita as regras do ‘fora’ que o deu e onde ele circulará. Dentro e fora são articulados indissociavelmente
sem se conciliarem no entanto[28],
em eco à reclamação de Derrida na sua De la Grammatologie (1967). Mas ao caducar, Aristóteles não se rende,
porque permite restituir contra o determinismo laboratorial a indeterminação
de todos os entes terrestres
(sublunares) do menos complexo ao mais complexo[29], desde a inércia dos graves[30],
passando pela autonomia de plantas e invertebrados, até ao enigma dos
vertebrados, sobretudo os bem mais complexos humanos em suas sociedades, a que
reservamos o nome de liberdade. Quanto à matéria e forma de Aristóteles, poder-se-ia dizer de forma geral que as artes inscrevem diferenças (não ‘formas’) em matérias de
empréstimo, como dizia Alain da pintura[31],
e os ofícios e engenharias inscrevem formas em matérias primas. A aprendizagem
consiste em inscrever os usos
como grafos sinápticos nos
neurónios dos cérebros aprendizes, tornando-os hábeis. Quanto aos vivos, na sua
geração parece ser o citoplasma do óvulo da fêmea a ‘matéria’ em que os genes
combinados da fêmea e do macho são inscritos. Enfim, os usos, técnicos e leis,
serão o que inscreve uma sociedade como tal, como habitação sobre a Terra.
26. É possível que os cientistas, tão mobilizados
por trabalhos de investigação ultra especializados, em equipas e por vezes com
equipamentos muito pesados, não tenham interesse por estas questões, tanto mais
que fazem intervir um filósofo da chamada Antiguidade de que se julgam
desembaraçados pela chamada Modernidade, é possível que não as entendessem
sequer, ainda que tivessem vagar. Mas aos filósofos que se interessam por
ciências, o recurso ao Estagirita poderia ser o aliciante para o que faz o prémio
desta disciplina do saber, o alargamento da compreensão das coisas: a
dificuldade de leitura dos meus textos de filosofia com ciências, consiste por
um lado no facto de que os leitores não conhecem as diversas ciências que aí
intervêm, quanto muito uma ou duas e que, quando conhecem uma ou outra, é
segundo o epistema greco-europeu em que se privilegia o interior (a substância,
a ousia) sobre o exterior, o
‘ambiente’ (os acidentes). O problema da Biologia (e das ciências europeias em
geral) é ela estar presa à determinação que caracteriza o laboratório mas que
vem já da definição e do privilégio que lhe é inerente entre o definido e o
contexto donde ele é arrancado, da essência / substância sobre os acidentes,
do dentro sobre o fora. Ora, no
laboratório só se fazem análises bioquímicas entre moléculas, que é onde a
determinação decide correlações regulares entre essas moléculas, caso por caso,
fragmentariamente. Para ajuntar esses fragmentos em teorias ter-se-á que
considerar, sem laboratório todavia, a maneira como os vários órgãos agem na
anatomia do organismo, tendo em conta os dois sistemas da auto-reprodução, o da
nutrição e o da mobilidade, que o sistema cerebral coordena (além do sistema da
sexualidade, relativo à reprodução da espécie). Ora, o determinismo aqui
claudica, como a análise fenomenológica mostra recorrendo ao ciclo bioquímico
do carbono para demonstrar a lógica da lei da selva, mas desde as grandes
descobertas da biologia molecular, nos anos 50 e 60, que se viu os genes
encarregados duma função determinista sobre ‘aspectos’ variados do organismo
(os mais cómicos sendo o gene da inteligência e o da homossexualidade). O duplo
laço desconstrói este privilégio do dentro / fora, substância / contexto vindo
da definição, esta oposição entre o organismo e o ambiente, entre o ente
vivo e a cena que o dá e deixa ser, o gera e alimenta.
P. S. Duplo laço e big
Bang
27. O motivo de duplo laço foi descoberto
em função do movimento dos vivos mas tendo um modelo simplificado, o das
máquinas modernas, o que permite uma extensão para a descoberta essencial da
Física e Química no século XX, a do átomo e da molécula, interrogando o motivo
mesmo de ‘explosão’ que joga no motor que tem esse nome: donde lhe vem a força?
A resposta consiste na compreensão da passagem do estado líquido da gasolina ao
estado gasoso provocada pela ignição: são desfeitas as forças electromagnéticas que ligam as moléculas do líquido, libertas em forma de gás; o que significa que o
estado líquido depende de forças que ligam electrões de moléculas, como o
sólido também, isto é as moléculas ligadas num grave (uma rocha, por exemplo). Se interrogarmos as explosões
nucleares, que libertam muito maior energia, são agora protões e neutrões dos
átomos de urânio que são desligados uns dos outros e se expandem, às forças que os ligam no núcleo atómico os
físicos chamando forças nucleares. Então, embora se trate duma questão polémica, é possível dizer que
qualquer grave é composto de duplos laços de moléculas: um constitui o núcleo
do átomo, o outro consiste no conjunto ligado de electrões, tanto os do átomo
como os que ligam átomos em moléculas e estas em graves líquidos ou sólidos. O
que é difícil nesta proposta é pretender que o núcleo do átomo seja um ‘motor’
e os electrões um ‘aparelho’, embora o primeiro seja retirado das trocas químicas a que os electrões se
sujeitam e das forças da gravidade que jogam na respectiva cena dos astros,
esta última retracção parecendo óbvia nos efeitos anti-gravidade das explosões,
a expansão energética em que elas consistem.
28. Com todas as cautelas (e
‘pareces’) que se impõem ao leigo, o motivo astrofísico do big Bang parece
abrir um tempo de explosão de ‘partículas’ (electrões, protões, neutrões, fotões) que parece desafiar a gravidade, a qual, a crer
nos aceleradores de partículas, parece não ter cabimento nessas explosões experimentais.
Ora, o motivo do duplo laço só parece dar conta de ‘matéria’ em sentido
corrente, de graves sólidos, líquidos ou gasosos, que são ligações duplas de
muitos milhões de moléculas. Como dizia Bohr, “o átomo é um ser de
laboratório”, só neste é susceptível de observação e manipulação experimental,
os aceleradores de partículas também são laboratórios, apesar das suas dimensões,
mas não creio que susceptíveis de manipulação laboratorial propriamente dita
sobre as partículas que neles explodem, não parecendo possível com os protões,
neutrões e electrões à solta ‘recriar’ átomos, já não digo de urânio, mas de
hidrogénio ou hélio. Ou seja, não haverá duplos laços num acelerador de
partículas como não os terá havido no que sucedeu após o big Bang dos físicos.
Se for assim, a questão que se porá é a de saber como é que esses duplos laços
se constituíram.
29. A dúvida não é de física (seria apenas
ignorância minha e esta é imensa), mas de filosofia ou fenomenologia. E não é
sobre o big Bang propriamente dito que, enquanto explosão, pressupõe ligações
anteriores que se desfizeram e é compreensível que não se saiba dizer grande
coisas sobre esse ‘antes’. Comentei a questão num texto inédito, lendo as
célebres lições sobre Física de Feynman em 1961, tendo verificado que ele
privilegia sistematicamente os ‘entes’ (graves, átomos, cargas eléctricas)
‘antes’ dos campos de forças, ao contrário do que creio ser a lição da Física:
são os campos que ‘constituem’ os entes, embora seja das forças entre os entes
que sejam os campos, sem poder pois decidir entre uns e outros. O privilégio
dos entes parece-me ser ‘a’ maneira (substancialista) de fazer de toda a
Física, desde Newton, cuja mecânica esclarece muitas questões das forças nos
movimentos mas não é capaz de compreender a força da gravidade (que Feynman diz
continuar a não se saber ainda hoje, mas também não a energia), enquanto que o
que a ciência dá a conhecer são “diferenças e proporções” entre medidas
(Galileu)[32]. Ora, os
duplos laços em Física são uma abordagem fenomenológica dos campos de forças
(nucleares, electromagnéticas e gravitacionais). É possível pensar uma enxurrada explosiva de protões, neutrões e
electrões à solta sem campos de força entre o big Bang e a constituição dos
primeiros átomos (nucleossíntese) de isótopos de hidrogénio, hélio e lítio (ao
fim dos primeiros 100 segundos, parece)? Como é que esses campos de forças se
constituíram? Nos aceleradores isso pode ser repetido experimentalmente? (vê-se
a ignorância do questionador em termos de Física, que não sabe avaliar o papel
da temperatura nestes processos).
30. A fenomenologia suscita uma segunda dúvida,
agora a respeito da força da gravidade, que julgo que só é conhecida
experimentalmente em astros e seus graves. Parece-me surrealista a ideia de
haver gravitões em partículas, a própria noção de ‘uma’ partícula ‘ter’ uma
força parece-me sintomática do pressuposto de que falei no parágrafo anterior:
são entidades de estatuto físico diferente, pelo menos isso é razoavelmente
claro na física newtoniana, que analisa movimentos de ‘entes’ inertes sujeitos
à causalidade de forças cinéticas, e por esse mesmo privilégio será incapaz de
entender a força de gravidade a distância, já que a pensa como as forças
cinéticas que tão bem analisou e compreendeu. Um outro sintoma deste problema
epistémico da Física é a noção, tanto em Newton como em Einstein, de que o
movimento é relativo ao espaço e tempo num, ao espaço-tempo no outro, como se
houvesse primeiro o espaço e o tempo e depois os graves, astros, etc., como se
não fosse verdade em termos gerais a definição aristotélica de tempo como “o
número do movimento”: é em relação a este que ele é medido, tanto nos laboratórios
como em astronomia. A hierarquia dos físicos – 1º o espaço tempo, 2º as coisas
inertes 3º as forças que as movem – deveria ser invertida – 1º os campos de
forças (os duplos laços) 2º as coisas que eles constituem 3º o movimento delas
susceptível de ser medido como espaço tempo. Se este parágrafo mostra alguma
coerência fenomenológica, há que acrescentar que falta a competência filosófica
do autor para ir além de levantar lebres. Também seria preciso ter em conta as
“estruturas dissipativas” de Prigogine, a sua descoberta da “produção de
entropia”, que aqui ficou silenciada.
2º P. S.
31. Ter começado pela Linguística, foi, além da
minha primeira formação em engenharia, condição necessária do que fiz ou
poderia ter começado com outra ciência, já que a escrita de Le Jeu des
Sciences avec Heidegger
et Derrida começou pela biologia,
por exemplo, e também aí se tratou a antropologia de Lévi-Strauss antes da
linguística? Não é impossível, mas o que é certo é que quando a questão me
ocorreu, me aconteceu, momento bendito de pensamento nos idos de 86, vieram as
várias ciências todas juntas –da energia e matéria, da vida, da linguagem, da
sociedade e do psiquismo – e sempre assim permaneceram (com Derrida, antes de
explicitar a fenomenologia com Heidegger e Husserl), apenas as ciências da
sociedade tiveram que levar algumas voltas. Mas todas as outra só puderam vir
porque a minha tese de doutoramento tinha sido sobre linguística e a dupla
articulação da linguagem (que nunca vi tratada por filósofos).
Comunicação
ao Congresso Português de Filosofia, Sociedade Portuguesa de FIlosofia, Lisboa,
5-6 de setembro 2014
[1]
http://filosofiamaisciencias2.blogspot.pt/2013/12/porque-e-que-as-ciencias-precisam-de.html
[2]
Enquanto que a sua Metaphysica, literalmente uma
Pósphysica, estuda em seguida as categorias que foram definidas na Physica
considerando o ente enquanto ente. “A Physica de Aristóteles é, de
forma retirada, e por essa razão nunca suficientemente atravessada pelo
pensamento, o livro de fundo da filosofia ocidental” (Heidegger, 1968, p. 183)
[3] A ousia da
tragédia é definida no início do capítulo 6 da Poética e
comanda todas as análises que se lhe seguem, da tragédia como da epopeia.
[5]
Simplificarei a abordagem, que http://filosofiamaisciencias.blogspot.pt/2012/02/version1.html
desenvolve mais tecnicamente.
[7] “A
‘causa’ não é algo que produz um efeito, mas aquilo cuja busca nos dirige para
aquilo a partir do qual um ser é dado, [...] um princípio
traduzido
num ponto de vista” (J.-L. Poirier, 1990, p. 19, eu subl.). ‘Motivo’ tem a
vantagem de assinalar o movimento (motus).
[8] E
não a mãe! A razão parece estar na ignorância dos mecanismos da concepção. Uma vez que
não se trata de geração espontânea, é preciso um motivo segundo a hulê,
que Aristóteles (e provavelmente os homens do seu tempo) encontra na analogia
(mesmo nome na língua) do esperma macho dos animais com a semente (sperma)
donde saem as plantas: ele julga que é esta semente masculina sozinha na
‘terra’ feminina que é a origem dos bebés.
[9] Da
família semântica de dunaton, possível: o que se pode,
o poder como ser capaz de, a força (dinâmica) de poder-devir-outro
(tradução latina por ‘potência’).
[11]
Ele que diz que “não significar uma coisa única, é não significar nada [...]
porque não se pode pensar se não se pensa uma só coisa” (Metafísica,
IV, 1006b7-10).
[12] Física,
IV, 219b1. Antes de mais do movimento dos astros celestes: “é de algo de
contínuo, que o tempo é o número, a saber do movimento circular” (Sobre a geração e a
corrupção, II, 337a24), isto é, os dias, os anos, as estações.
[13] “O que pode ser verdadeiramente dito de
qualquer coisa, mas não necessariamente nem habitualmente” (Metafísica,
D, 30, 1025a14-15). As nove ‘categorias’ além da ousia são,
segundo Aristóteles, as classes de ‘acidentes’ que podem ocorrer.
[14] Gilson
dirá que o movimento é para Tomás de Aquino um acidente, em linha com a
qualidade (Le thomisme, J. Vrin, 19475, p. 47).
[15]
Dinâmica é a parte da Física que estuda as forças.
[16] Extensível
a todas as outras máquinas, os motores eléctricos relevando da Electrodinâmica,
mas também esses motores são blindados, retirados do contacto com o resto do
aparelho. As máquinas diferem entre si, além da dimensão, é claro, sobretudo
devido ao aparelho que é relativo ao trabalho que lhe compete
[17] O
carro é parte dum uso social: como qualquer outra máquina, articula Física e
Química com Antropologia.
[18] Simplifico, já que os duplos laços desdobram-se
frequentemente, com electrões por forças electro-magnéticas que perfazem os
átomos e as moléculas, quer simples quer compostas.
[20] E
em certas ciências os caracteres matemáticos (números, letras e sinais de
operações) ligados em problemas. A que se acrescentarão os sons musicais em
músicas diversas, as imagens em molduras, em planos de cinema ou televisão, e
por aí fora, cuja relação à história do saber ocidental que não sei articular
fenomenologicamente.
[21] Mas,
tal como com o átomo e molécula aliás, a sua descrição em termos de duplo laço
não se presta a identificar o ADN como ‘motor’ de que o metabolismo seria o
‘aparelho’, como se estes dois duplos laços primordiais da matéria, inerte e
viva, não pudessem devido a essa sua condição inaugural obedecer à lógica dos
compostos mais complexos que eles tornarão possível.
[22] Parece ao leigo em biologia que os
biólogos foram levados a pensar a grande descoberta da genética como se se
tratasse dum ‘motor’ que tudo explicaria, quando no fundo mais alcance não
parecem ter do que o da reformulação das suas próprias proteínas. Ora, também o
motor dum automóvel é cego para o tráfego, a cargo do ‘aparelho’, incluindo o
condutor como sua peça piloto.
[23]
Onde se mostra que é a sexualidade que obriga o animal vivo, o humano, a sair
do ‘egoísmo’ da sua auto-reprodução e a virar-se para a/o outra/o, em favor da
reprodução da espécie.
[24]
Que não às outras ditas impropriamente ‘linguagens’, matemática, músicas,
mapas, desenhos, fotos, etc.
[25]
Voz e discurso são as duas componentes da fala (parole) na
Linguística saussuriana, após L. Hjelmslev (morfologia e sintaxe) e M. Gross
(sintaxe e semântica), elas tendem a ser unificadas em paradigmas que variam
com as línguas (mesmo tratando-se de línguas da mesma família, como as
latinas).
[26]
Tratei desta questão numa comunicação ao Congresso Philosophy of
Science in the 21st Century – Challenges and Tasks, December 4th to 6th, 2013. Ver em
http://filosofiamaisciencias2.blogspot.pt/2013/12/porque-e-que-as-ciencias-precisam-de.html
[27] Há
vários aspectos da análise em termos de duplos laços que não foram aqui tidos
em conta, como o da doação apagada e o da entropia prigoginiana.
[28] Pode-se pensar que foi a inconciliação que de-cidiu o
corte definitório da indissociabilidade pela de-finição, o que ajuda a
compreender a história do pensamento, o alcance da desconstrução.
[30] “A inércia de cada grave é o efeito das forças nucleares
dos seus átomos: por um lado, ela é a resistência à sua desagregação, o garante
da sua impenetrabilidade de grave (desde a chamada “resistência dos
materiais”), por outro é a ex-posição às forças gravitacionais e / ou
electromagnáticas propícias de transformações químicas. Ora, esta só é possível
por causa da resistência, pela inconciliabilidade da inércia com as forças
atractivas vindas de outros graves. Mas por outro lado, é das ex-posições de
inércias resistentes de todos os graves da cena que é feita a lei heteronómica
do campo gravitacional como do electromagnético. Como não há campo (ou cena)
senão pelo conjunto das forças entre os seus graves, as duas leis, a do campo e
a de cada grave, são indissociáveis” (Belo, 2007, cap. 13, § 76).
[31] Ver
http://www.educ.fc.ul.pt/hyper/resources/fbelo.htm, sobre “palavras, números,
músicas e imagens”.
[32] É entre ‘diferença’ e
‘substância’ que o problema fenomenológico se põe : pretendo aliás que se
é certo que foram Heidegger e Derrida que o explicitaram, foi a Física de
Galileu e de Newton que abriu a possibilidade dessa explicitação
fenomenológica. Se estas parágrafos ficam em post-scriptum é enquanto reenvio
para outro texto em que este problema é colocado: Da Natureza à Técnica, da
modernidade antiga à moderna (e.book), além de Belo 2007 e Belo 2009, e o indicado à
entrada http://filosofiamaisciencias.blogspot.pt.
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