domingo, 2 de novembro de 2014

A leitura da Bíblia como parte de uma praxis política


Thomas Staubli (org.), Wer knackt den Code ? Meilensteine der Bibelforschung. 50 Porträts, Patmos, 2009, Dusseldorf
[Quem é capaz de decifrar o código ? Grandes marcos da investigação bíblica. 50 retratos)
[Qui peut déchiffrer le code? Grandes pierres de la recherche biblique]

O título deve ser uma alusão ao Código Da Vinci, trata-se duma maneira de exegetas universitários alemães e suiços tomarem posição sobre como ler a Bíblia num texto de divulgação para o grande público. Abre com um texto de Thomas Staubli de 30 páginas que recapitula 2 séculos de investigação bíblica, o qual, coadjuvado por mais 6 investigadores, apresenta em seguida, em duas páginas cada, 50 obras significativas desse percurso, na esmagadora maioria de língua alemã. É claro que se encontram lá todos os grandes, Wellhausen, Gunkel, Buber, Bultmann, Barth, von Rad, de Vaux, Aland, etc.
Ora, entre eles, nas pp. 106-7, figura a minha Lecture matérialiste de l’évangile de Marc, Récit, pratique, idéologie, Cerf, 1974, traduzida em espanhol, alemão e inglês (NY), o que, 35 anos após a sua publicação, me dá mais contentamento do que qualquer prémio ou medalha, já que se trata de exegetas alemães actuais (todos nascidos, excepto um, entre 1958 e 1977) que avaliam as inovações surgidas na sua disciplina no século XX. É uma honra incrível aparecer o meu livro publicado 35 anos antes entre estes grandes exegeta, a maioria de língua alemã, Wellhausen, Buber, Bultmann, K. Barth, von Rad…


TRADUZINDO:

Fernando Belo (n. 1933) “C/X – A leitura da Bíblia como parte de uma praxis política

Será que a crença cristã, tal como resulta da Bíblia, é uma ideologia que contraria uma prática política libertadora? Que textos é que nos impedem a descoberta do Evangelho dos Pobres?

“C by X" – foi este o programa provocador de Fernando Belo: o Evangelho de Marcos (francês Marc) pode ser lido conforme Marx! Abrem-se, desta forma e completamente, novos horizontes e interrogações!

Uma leitura da bíblia baseada em Karl Marx parece, à primeira vista, bastante paradoxal.
Só que Belo apoia a sua abordagem não só em Marx, mas também no estruturalismo francês e na psicanálise. O seu livro reflecte a singular situação de uma Europa em novo começo, determinado pelas transformações fundamentais do Concílio Vaticano II, do advento da Teologia da  Libertação, da Conferência Mundial sobre Igreja e Sociedade (Genebra 1966), da decisão do Concelho Mundial das Igrejas de lançar, em 1969, um programa contra o racismo, ao mesmo tempo que acontece a rebelião estudantil de 1968, com o aparecimento das suas esperanças utópicas e sociais.

Os anos 60 foram, na Europa, uma década de desenvolvimento tenso, que conduziu a que as injustiças sociais, económicas, políticas e as do racismo fossem empurradas para a agenda das igrejas. Neste contexto, e na Europa Ocidental, desenvolveram-se novas formas de ler a Bíblia, que se designaram por “concretismo”, “política”, “sócio-histórica”, “não-idealista” ou “materialista”.

Belo adoptou a designação “leitura materialista”, que significa, em primeira linha, o contrário de “idealista” ou seja: uma leitura  não individualista, não abstracta, não transcendente, mas que resulta da interpretação compreensiva resultante da realidade vivida através das estruturas económicas, políticas e sociais e das lutas contra a opressão, exploração, discriminação, etc.

Enquanto que a sua leitura encontrou grande aceitação na Europa, praticamente não deu passos no espaço dos EUA: “no geral, o estudo bíblico ficou prisioneiro das preocupações privadas e medos dos cristãos – enquanto que o nosso mundo pende de uma cruz imperialista, de violência e de exploração” (Ched Myers, 1988).

Fernando Belo nasceu em Lisboa, em 1933. O seu grande interesse por questões sociais, levou-o a licenciar-se em engenharia civil e à leitura de Karl Marx. Em 1968 concluiu os seus estudos de Teologia Católica numa Paris abalada pela luta estudantil. O seu interesse pela reforma social, pelo marxismo, pelas utopias sociais e pela renovação teológica fez com que os combinasse através dos métodos estruturalistas da análise dos códigos de linguagem, desenvolvendo, assim, uma nova abordagem dos textos bíblicos. O seu importante comentário ao evangelho de Marcos, “Leitura materialista do Evangelho de  Marcos” foi publicado em 1974. A obra foi traduzida em espanhol, alemão e inglês. Em 1977, Belo recebeu o doutoramento “honoris causa” pelo “Instituto Protestante”, em Paris.

Depois do golpe de esquerda (a “Revolução dos Cravos”), que propiciou, após os tempos da ditadura, a lenta abertura do país, o ex-padre, já casado, regressou a Portugal, vindo do seu exílio francês. Até se jubilar, ensinou, como professor, Filosofia da linguagem na Universidade de Lisboa.


Fernando Belo, Leitura materialista do Evangelho de S. Marcos, Stutgart 1980
Ched Myers, Binding the Strong Man. A Political Reading of Mark’s Story of Jesus. New York 1988

Thomas Staubli (Herausgeber), Wer knackt den Code? Meilensteine der Bibelforschung 50 Porträts, Patmos, 2009, Dusseldorf eilen

[Quem é capaz de decifrar o código ? Grandes marcos da investigação bíblica. 50 retratos]ste

(Qui (())ine der Bibelforschung

Inholt

Vorwort 9
Einleitung 11
Meilensteine der Bibelforschung - 50 Porträts 41
1 Wilhelm Martin Leberecht de Wette
Ahnvater der historischen Bibelforschung 43
2 Julius Wellhausen
Der Bahnbrecher 45
3 Bernhard Duhm
Vom Beginn der geistigen Weltgeschichte 47
4 Gustaf Dahnan
Pionier der biblischen Ethnoarchäologie 49
5 Hermann Gunkel
Mitgründer der Religionsgeschichtlichen Schule 51
6 Leonhard Ragaz
Pionier der kontextuellen Bibeldeutung 54
7 Martin Buber
Religionsphilosoph, Linkszionist und genialer Bibelübersetzer 56
8 Hedwig Jahnow
Frauenpionierin in der alttestamentlichen Wissenschaft 58
9 Albrecht Alt
Der Gott der Väter 60
10 Rudolf Bultmann
Entmythologisierung des Neuen Testaments
und Christusverkündigung 62
11 Sigmund Mowinckel
Altorientalischer Kult als Sinnhorizont für biblische Texte 65
12 Karl Barth
Römerbrief-Kommentar und dialektische
Theologie 67
Bibliografische Informationen
http://d-nb.info/991116208 digitalisiert durch
13 Yehezkel Kaufmann
Der erste jüdische, historisch-kritische Bibelwissenschaftler 69
14 William Foxwell Albright
Prägende Gestalt der Bibelarchäologie 71
15 Gerhard von Rad
Theologisches Reden vom Alten Testament
als Nacherzählung 73
16 Martin Noth
Amphiktyonie und Deuteronomistisches Geschichtswerk 76
17 Roland Guérin de Vaux
Der Entdecker von Qumran 78
18 Hans Walter Wolff
Prophétie und Protest 80
19 Kurt Aland
Wie lautet der ursprüngliche Text des Neuen Testaments? 82
20 Herbert Haag
Mit der Bibel den Katholizismus reformieren 84
21 David Flusser
Bedeutendster jüdischer Jesusforscher und
unentbehrlicher Vermittler zwischen den Religionen 87
22 Dominique Barthélémy
Revolutionär der Textkritik 89
23 Krister Stendahl
Paulus und das gute Gewissen 91
24 Brevard S. Childs
Der Kanon als Schlüssel zum Verständnis der Bibel 93
25 Jacob Milgrom
Virtuoser Deuter der biblischen Ritualgesetze 95
26 James Barr
Intelligent glauben 98
27 Martin Hengel
Judentum und Hellenismus 100
28 Oswald Loretz
Ugarit und die Bibel 102
29 Carlos Mesters
Das Leben und die Bibel 104
30 Fernando Belo
»C/X« - Bibellektüre als Teil einer politischen Praxis
31 Luise Schottroff
Sozialgeschichte im Dienst der Befreiung
32 OthmarKeel
Bildforscher unter Textforschern
33 Hans Heinrich Schmid
Weisheit, Gerechtigkeit,
Pentateuch und - die Zürcher Universität
34 David J. A. Clines
Von rechts nach links und von links nach
rechts lesen
35 Frank Crüsemann
Sensibilität für gesellschaftliche Prozesse
36 Ulrich Luz
Das Matthäusevangelium und
seine Wirkungsgeschichte
37 Elisabeth Schüssler Fiorenza
Die Macht des Wortes erforschen
38 Adrian Schenker
Geist und Buchstabe
39 Erich Zenger
Pentateuch- und Psalmenforscher, Advokat des
jüdisch-christlichen Dialogs
40 Eugen Drewermann
Tiefenpsychologie und Exegese
41 Helen Schüngel-Straumann
Feministische Exegetin der ersten Stunde
AI Athalya Brenner
Ohren für weibliche Stimmen in der Bibel
43 Gerd Theißen
Jesusbewegung und Sozialgeschichte
44 Max Küchler
Religion und Politik in der Landschaft
45 Erhard Blum
Kompositionen statt Quellen
46 Bernadette Brooten
Junia — hervorragend unter den Aposteln 142
47 Marie-Theres Wacker
Lehrerin der Unterscheidung von Geistern 144
48 Adele Reinhartz
Jüdische Neutestamentlerin im Dienste der eigenen Tradition 146
49 Renita Weems
Afrikanisch-amerikanische Bibelauslegung 148
50 Martti Nissinen
Prophétie als Phänomen der ostmediterranen Kultur 150
Personenverzeichnis 153
Literaturhinweis 156
Autorinnen und Autoren 157
Bildnachweis 158







Sutter Rehmann, Luzia: Beitag zu Fernando Belo, in: Staubli, Thomas (Hg.): Wer knackt den Code? Meilensteine der Bibelforschung, Düsseldorf 2009, S. 106-107.W

Fernando Belo (geboren 1933): „C/X“ – Bibellektüre als Teil einer politischen Praxis




Ist christlicher Glaube, wie er in der Bibel ausgedrückt ist, eine Ideologie, die der befreienden politischen Praxis widerspricht? Welche Lesegewohnheiten hindern uns daran, das Evangelium der Armen zu entdecken? 

„C durch X“– so lautete  das provozierende Programm von Fernando Belo:  das Evangelium des Markus (franz. Marc) konnte nach Marx gelesen werden! Damit eröffneten sich völlig neue Horizonte und Fragestellungen. 

Eine auf Karl Marx basierende Bibellektüre scheint auf den ersten Blick ziemlich paradox. 
Doch Belo schulte seinen Blick nicht nur bei Marx, sondern auch am französischen Strukturalismus und an der Psychoanalyse. Sein Buch reflektiert die einzigartige Situation in einem Europa des Aufbruchs, als fundamentale Transformationen mit dem zweiten vatikanischen Konzil, dem Auftauchen der Befreiungstheologien, der Weltkonferenz von Kirche und Gesellschaft in Genf 1966, der Entscheidung des Weltkirchenrates, ein Programm gegen den Rassismus 1969 zu lancieren, neben den Studentenrebellionen der 68er und ihren utopischen und sozialen Hoffnungen nahe schienen. 

Die 60er Jahre waren in Europa eine Dekade von spannenden Entwicklungen, die dazu geführt hatten, dass soziale, ökonomische, politische und rassistische Ungerechtigkeit auf die theologische Agenda der Kirchen gerückt waren. In diesem Kontext entwickelten sich neue Arten der Bibellektüre in Westeuropa. Sie nannten sich, ‚konkret’, ‚politisch’, ‚sozialgeschichtlich’, ‚nicht-idealistisch’ oder ‚materialistisch’. 

Die Bezeichnung ‚materialistische Lektüre’ wurde von Belo eingeführt und bedeutete in erster Linie das Gegenteil von ‚idealistisch’, also eine nicht-individualistische, nicht-abstrakte, nicht-jenseitige Lektüre, die die Lebenswirklichkeit, wie sie von ökonomischen, politischen Strukturen, von sozialen Kämpfen gegen Unterdrückung, Ausbeutung, Diskriminierung etc. geprägt ist, in eine Interpretation miteinbezieht.

Während seine ‚Lektüre’ weite Akzeptanz in Europa fand, fasste sie in US-amerikanischem Raum kaum Fuss: „Insgesamt bleibt das Bibelstudium unter Christen privaten Sorgen und Ängsten verhaftet – während unsere Welt an einem imperialistischen Kreuz von Gewalt und Ausbeutung hängt.“ (Ched Myers, 1988)

Fernando Belo wurde 1933 in Lissabon geboren. Sein grosses Interesse an gesellschaftlichen Fragen führte ihn zum licence d’ingénieur civil und zur Lektüre von Karl Marx. 1968 schloss er sein Studium der katholischen Theologie in einem von Studentenunruhen geschüttelten Paris ab. Sein Interesse an Gesellschaftsumbau, Marxismus, Sozialutopien und Erneuerung der Theologie verknüpfte er mit strukturalistischen Methoden der Textcodierung und entwickelte so einen neuen Zugang zu biblischen Texte. Seinen gewichtigen Kommentar zum Markusevangelium: „Lecture matérialiste de l’ évangile de Marc“ piblizierte er 1974. Das Werk wurde in Spanisch, Deutsch und Englisch übersetzt. 1977 erhielt Belo die Ehrendoktorwürde vom Institut de Théologie Protestante in Paris. 

Nach dem Linksputsch (der „Karnations-Revolution“) kehrte der verheiratete Ex-Priester aus seinem französischen Exil in seine Heimat nach Portugal zurück, als das Land sich nach der Diktatorenzeit langsam zu öffnen begann. Bis zu seiner Emeritierung (2003) lehrte er an der Universität Lissabon als Professor für Sprachphilosophie.