O que é o ‘fazer’ um uso que se aprendeu?
Sem oposição entre activo e passivo
Pensamento e palavras
O pensamento segundo Nancy
O que é o ‘fazer’ um uso que se aprendeu?
1. Se, com uma faca na mão, descasco uma batata
para fazer uma sopa, mão e faca são activas, enquanto que a batata sofre (em francês subit) o perder a casca, mas há nessa actividade a passividade de ter aprendido e
muitas vezes repetido o gesto, o que se reflecte na habilidade que ele
manifesta; mas esse gesto insere-se numa sequência – no caso, a de fazer tal
sopa – que supõe uma receita aprendida e repetida, com retenções e diferimentos
(como descascar batatas), cada gesto, como laço simples entre a mão-faca e a batata, sendo enlaçado
pela sequência-receita da sopa, a qual por sua vez desdobra outro duplo laço
com os fazeres dos outros pratos do jantar, este mais largo duplo laço
pertencendo ao paradigma da unidade social, recebido ancestralmente por
aprendizagem. O que esta fez foi tornar alguém que come recebendo a comida de
outros em alguém capaz de colaborar nesse fazer a comida de todos.
2. A receita releva da linguagem, é o respectivo
pensamento, é dita e mostrada por outrem e aprende-se ouvindo e vendo fazer. Em
termos neuronais, estes dizeres ouvidos e fazeres vistos de outros –
literalmente antepassados
assim, isto é, que passaram (voz activa do verbo ‘passar’, passivo este?) –
gravam-se cerebralmente em sinapses (que abrem para serem repetidas futuras
passagens); esta passividade só será suficiente sem a actividade que esses
grafos dão? isto é, há uma diferença temporal, primeiro receber depois fazer,
ou o passivo (grafado) é já activo? Indecidível, já que grafar é uma passividade
(um ‘sofrer’, subir) que activa
(criação duma sinapse que repete a gravação) como resposta à actividade do outro que se grava. Na
experimentação de E. Kandel com os seus vermes de mar, sendo um golpe brusco
que provoca a criação duma sinapse (“Memória em fenomenologia neurológica”, neste blogue), parece óbvio que tal diferença temporal
praticamente não existe, ao invés do que será aprender a falar uma língua, por
exemplo, bebé ou estrangeiro. O exemplo da batata e da sopa tem a vantagem de
deixar testemunho fenomenológico, susceptível de ser avaliado (bem descascada,
boa sopa ou nem por isso) e de enlaçar dizer e fazer, receita e uso, por um
lado, mas também de esse laço se ligar aos laços biológicos que nos fazem
buscar comer todos os dias.
3. Estes duplos laços são sempre
espácio-temporais, se dizer se pode, ‘horizontais’ – em seus reter e diferir
incessantes – e complexos, da complexidade de que se fazem os saberes
adquiridos a pouco e pouco e da habilidade respectiva, em contraste com a concepção
ontoteológica que opõe o cozinheiro à batata, a cada uma delas, depois à sopa
em cada um dos seus gestos, que opõe o ‘sujeito’ ao ‘objecto’ e naquele, o pensamento
ao fazer, à faca e à batata, que esquece assim como tudo isto se reproduz de há muitos séculos a esta parte através das
gerações, que ensinam às que vêm e crescem. Pressupõe-se a ‘verticalidade’ dum
Criador (‘teo’) do ‘sujeito’ e sua alma (‘logos’) e do ‘objecto’ batatas
(‘onto’), uma doação dividida que, ao prescindir do divino desde Kant, já nem
sabe da doação – o humanismo como autonomia, afirmação activa conquistada
contra ela, esquecendo-a –, ignora que esta fenomenologia da sopa não faz mais
do que continuar uma fenomenologia da evolução dos mamíferos, duma lei social
que busca dominar a lei da selva e evitar a lei da guerra: é isso o
paradigma, parte estrutural do
primeiro estádio da razão social-humana, uma cooperação que se manifesta na
sopa comida por todos os indígenas da unidade social.
Sem oposição entre activo e passivo
4. A oposição ontoteológica entre o activo e o passivo, este subordinado àquele, como a mulher ao homem por exemplo tradicional,
a criança ao adulto, o trabalhador manual ao seu patrão, não só ignora como a
mulher é fortemente activa sem que o homem suposto activo possa prescindir
dela, como a criança é fortemente activa no seu aprendizado que a tornará
adulta, como o trabalhador mete activamente a mão ao machado e ao arado, como
denega a passividade do activo homem, adulto e patrão, deslocando-a para a que
ele tem face ao Criador, com a vantagem óbvia de esse dom ser feito, como
‘graça’, a ele pessoalmente, em sua alma, saber e força. É que ao homem compete
a razão do paradigma e ele sabe que este lhe escapa por todos os lados, os da
fecundidade das plantas cultivadas e dos rebanhos, os da habilidade de cada um
(ele próprio incluído, ele o activo) e os da não passividade (dos outros em
face dele), da conflitualidade sempre possível, como resposta, de todos os que
pertencem ao paradigma.
5. Esta oposição esquece (Heidegger) que a habilidade foi aprendida,
recebida, parece agora só activa, esquece que a sua espontaneidade mais não é
do que deixar vir o que se
aprendeu já sem o lento esforço activo e atento que lhe foi temporalmente
necessário, deixar vir a passividade na actividade, o que justamente torna esta
fecunda, a fecundidade sendo a
capacidade de melhorar o que se recebeu até ao ponto duma eventual invenção que transforme o uso em questão, altere num dado
ponto a receita ou lhe sobreponha outra, altere o paradigma. É certo porém que
as alterações paradigmáticas, em sociedades já não-autárcitas mas de especialização,
vêm de fora.
Pensamento e palavras
6. Se o fazer usual, que outro não há – os
acontecimentos são encontros entre vários fazeres que se obrigam a mutuamente
se adequarem, mas raramente inventam usos novos –, for assim passivo activo,
espontânea habilidade, deixar vir o que se aprendeu quase como quem já nem
repara, pode-se pensar o pensamento como um fazer usual sobre escrita
pensada, que se aprendeu ou se
lê, quer em textos, quer em inscrições orais como são os provérbios em sociedades
iletradas, quer ainda em resposta ao que se ouve. Nestes casos, pode parecer
que os acontecimentos, que geram novos pensamentos, sucederão mais facilmente.
E há um sentido em que isso frequentemente acontece, sempre que se inventa a
pólvora na nossa aprendizagem, descobrimos – auto-didactismo que se infiltra em
escolaridades e outras leituras – luminosamente o que já antes outros descobriram
mas nós ainda não sabíamos. Mas a noção de haver maior frequência no mundo do
pensar do que no do fazer releva da concepção ontoteológica do pensar, do
logocentrismo que privilegia a espontaneidade do falar ou a ‘inspiração’ do
escrever, o papel do pensador ou escritor sobre o jogo ‘horizontal’ da língua
em que se pensa, que se aprendeu mas tal aprendizagem necessariamente se
esqueceu, inevitável esquecimento devido justamente à espontaneidade hábil que
se foi ganhando em falar, pensar, discutir, fazer. É a nossa própria
auto-avaliação, misto de narcisismo e de auto-confiança sem o qual não se
avança nos percursos e relações com outros, mesmo que sem vaidade, é a nossa
habilidade de falar e de pensar que esquece que as palavras são regras: sem esse esquecimento
não falaríamos.
7. As regras das palavras são pelo menos de três
níveis: as dos fonemas / letras que as constituem (diferença entre ‘claro’ e
‘caro’), as das frases em que intervêm (morfologia, mormente dos verbos,
sintaxe e semântica), as dos códigos dos paradigmas textuais. São essas regras
e diferenças entre elas que permitem que nos entendamos na mesma língua e aí
está um primeiro ponto: os erros, que os outros nos corrigem e que implicam que não podemos falar à toa,
sem desconsideração social. Entre as regras da sintaxe das frases e a semântica
das palavras há uma relação forte e muitas vezes subtil que se impõe ainda que
não se dê por isso, ainda que não se possa dar por isso. Porque quando falamos
ou pensamos, fazemo-lo sempre habilmente, isto é rapidamente, e as tais regras
vêm com a espontaneidade de não se poder dar por elas, de apenas haver atenção,
escolha, ao que os escolásticos chamavam categoremas (substantivos, adjectivos, verbos e advérbios),
os sincategoremas
(preposições, artigos, conjunções, sufixos das formas morfológicas, plurais,
género, etc) vindo pré-fabricados nas frases, se dizer se pode.
8. Dois exemplos importantes que resultam disto.
Um deles tem a ver com a polissemia dos tais categoremas, que não são apenas as
figuras de tipo metafórico, mas também cruzamentos entre tipos diferentes de
textos. Maurice Gross analisou as polissemias estruturais dos 3000 verbos
franceses mais frequentes, ao mostrar os que se repetiam em quadros
sintáctico-semânticos diferentes. Ora bem, a invenção grega da definição foi justamente uma decisão anti-polissémica e o
seu alcance manifesta-se nomeadamente na expulsão dos verbos dos textos
gnosiológicos (filosofia, lógica, ciências), guardando apenas a cópula (é /
são) ou formas equivalentes de alguns verbos, o que significa retirar todas as
morfologias verbais (tempo, modo, pessoa, género, voz), além dos deícticos (que
referem à situação de fala: interlocutores e seu contexto). Foi uma quase matematização
da língua, como se as palavras definidas deixassem de ter fonemas. O outro
exemplo é oposto a este, é o da poesia, cuja especificidade advém da importância
igual que têm os níveis do § 7, o primeiro, o dos fonemas, sendo decisivo no
ritmo e nas sonoridades, por assim dizer na musicalidade das frases, enquanto
que os outros dois são decisivos do pensamento do poema, nomeadamente
buscando-se multiplicar os jogos polissémicos que a filosofia e a lógica
repudiam. Ora, sendo as regras da língua, quer as que dizem respeito aos
fonemas das palavras, quer as dos sincategoremas, pré-fabricadas, não
conscientes, o acordo entre musicalidade e pensamento dum poema só pode
resultar dum difícil trabalho de experimentação, já que fonemas e frases são
indissociáveis e inconciliáveis: um poema é sempre um acontecimento trabalhado,
alguma habilidade vinda com a experiência e algum talento podendo gerar a
espontaneidade que se presta à noção de ‘inspiração’. Parece óbvio que a poesia
contemporânea, paralela à pintura não figurativa, abriu um caminho de subversão
das regras das frases e por vezes dos fonemas também, como Mia Couto.
9. As palavras fazem parte da história duma língua,
mas não apenas da sua história linguística, também o que aqui se buscou, da
história do pensamento nessa língua, na sua literatura como na sua filosofia e
textos de saber, de receitas, narrativas, provérbios e por aí fora. E como as
palavras são iguais para todos dentro da mesma condição social (de língua), se
impõem a todos como condição de se
entenderem, elas são a matéria prima do pensamento, e como qualquer matéria prima, o que obsta, o
objecto que faz objecção, a dificuldade oferecida pela aprendizagem na sua
faceta de passividade ao pensamento como faceta de actividade, que tem que deixar
vir as frases com os categoremas
escolhidos e a respectiva pré-fabricação. Nunca nos admiraremos suficientemente
desta habilidade que temos de falar e de, apesar dela, ser tão difícil pensar
bem.
O pensamento segundo Nancy
10. Com este texto a meio caminho, li o livro do
francês Jean-Luc Nancy e do alemão Daniel Tyradellis, filósofos conversando em
Berlim, Qu’appelons-nous penser?[1] e gostaria de citar algumas passagens de Nancy, numa perspectiva diferente
desta que aqui se expôs, à minha maneira de conjugar as minhas leituras de
Heidegger e de Derrida, leituras infieis que se quereriam fieis a ambos. Um dos
pontos é o do comum do
sentido: “o sentido não pode ser senão comum, e não há o comum senão no elemento do sentido. [...] o sentido,
somos nós” (p. 73). Antes, Nancy tinha dito: “Na sua época, Heidegger
introduziu pela primeira vez em toda a história da filosofia a palavra Mitsein (ser com). E o facto de que a palavra Mitsein entre assim em cena, é igualmente um acontecimento
importante. Creio verdadeiramente que não havia uma palavra assim desde Thales.
Dito de outra maneira, isso nunca tinha sido uma questão. Interrogava-se sobre
a maneira de construir, de fundar a política. [...] Heidegger diz que não se
deve tomar o Mitsein como um
categorial, mas como um existencial [...] o que significa que é uma parte real
e essencial do Dasein enquanto
tal, portanto da existência enquanto tal. Existir quer dizer co-existir. [...]
E quando se chega à História [...] aprende-se enfim que o Mitsein realiza-se como comunidade” (p. 48-9).
11. Um outro ponto tem a ver com a psicanálise, em
que apenas se interessou com “o que, da psicanálise, foi o frayage (o romper) duma nova via de pensamento” (p. 56).
Com Spinoza e Deleuze contra Lacan, Jean-Luc Nancy pensa o desejo não como
cumular algo que falta (um manque), antes como “devir mais ser” (être davantage) (p. 53), uma força que quer ir além dela
própria, diria eu. Segundo Hegel, “o saber absoluto é o transbordar do saber
sobre si próprio. Freud chamou a isto ‘inconsciente’, uma palavra muito
incómoda porque faz pensar numa outra camada da ‘consciência quando ele designa
a própria experiência da ‘consciência’, ou do être-soi (‘ser-se a si’). A experiência de ser animado por
‘pulsões’ que são a nossa própria ‘alma’ e que ‘pulsionam’ a... (a tudo, a
nada, a si mesmo como ao outro, à identidade como à diferença, enfim ao
‘sentido’ em todos os sentidos). Isto é um grande acontecimento na história da
nossa ‘consciência de saber’ – na história da ciência, da filosofia, da arte”
(p. 57). “ ‘Pensar’ é um nome para a pulsão à prova de si mesma, para a pulsão pesando (‘pensare / pesare’) sobre si, ou ainda ‘pensar’
é uma palavra para dizer o encontro da ‘coisa’ (Dinge / Denken[2] soa a Hegel). O encontro da coisa pela coisa: há
alguma coisa e não nada, e a alguma coisa torna-se questão em função do seu ser
dada. A questão é ela própria um pedaço da alguma coisa que é dada. A questão
ou a demande[3]” (p. 58).
12. “ […] ‘pensar’ significa ‘ressentir’ (sentir
em si), ‘éprouver’ (ter uma provação), ‘receber’ impulsos, afectos, excitações,
incitações… (p. 74), é a última palavra da conversa. Nancy é um pensador do
‘corpo’ fora da oposição ontoteológica alma / corpo. Se se pensa que a rede
neuronal acompanha todos os órgãos que são assim ligados ao cérebro,
nomeadamente ao velho córtex das emoções, enquanto que o novo córtex dos
mamíferos e das aves é um seu desdobramento que transborda para as questões de
táctica e estratégia na lei da selva e depois no mundo tribal dos humanos e que
é neste que se desenvolve o que chamamos correntemente ‘pensamento’, vê-se como
o pensador francês busca justamente fugir à oposição sensível (corpo, emoções)
/ inteligível (alma, pensamento), mostrar como pensar é, digamos assim, um
global anatómico que se joga no comum tribal, deste vindo a doação do sentido,
da língua e dos usos.
13. Mas bizarramente, nunca o diálogo entre os
dois filósofos fez alusão ao papel da linguagem no pensamento[4],
como se fosse algo de adquirido em que já nem é preciso falar. E pergunto-me se
a proposta de ‘pensar’ ser um nome para ‘a pulsão à prova de si mesma’ não tem
o inconveniente de ‘interiorizar’ o pensamento: como química, trieb em Freud, mas contendo neste também, além duma
fonte e dum alvo, um ‘objecto’, palavra infeliz sem dúvida, mas que tem a
grande vantagem de introduzir na pulsão algo de ‘exterior’, de tribal. Ora, só
por via da língua, ou melhor da fala, o primeiro grande motivo da aprendizagem
(e sê-lo-á a vida toda), é possível, me parece, a intrusão do químico pelo
paradigma tribal: há um lento deslocamento do bebé para a criança, do ‘ser na
mãe’ para o ‘ser no mundo’ (da unidade social), que supõe um ‘não!’ a impor-se
à pulsão enquanto repetição pura (pulsão de morte, em termos de Freud, ou
autismo), a torná-la justamente pulsão deslocável adentro do ‘mundo’ do paradigma que se lhe abre
lentamente, pulsão que seja ‘devir mais ser’, como acima se citava o desejo com
Spinoza e Deleuze. Porque se trata dum ‘não!’ que, paradoxalmente, não é
negativo, que é incitação a aprender, a ‘devir mais ser’. É a tribo que
penetra o pulsionar do pensar e do fazer, dizendo e mostrando como ser. E se aí tem sentido lamentar que este pulsionar
tenha sido remetido para o ‘não’ inconsciente, não creio todavia que se trate
apenas da ‘pulsão à prova de si mesma’, porque também à prova do paradigma
tribal, onde se situa a grande descoberta de Freud[5],
relacionando jusatamente a líbido com efeitos de retorno (après coup) devidos à lei tribal[6].
A descoberta do ‘impossível’, como numa tribo humana se consegue disciplinar os
seus rebentos sem se saber como, através de efeitos de retenção das pulsões,
que vão lá atrás no tempo, como que à origem, deslocando-as pelas aprendizagens
para o comum tribal, introduzindo as regras que ensina nas raízes duma espécie
de mecanismo autónomo, cuja habilidade tornada espontânea é a exibição ‘feliz’
dessa pulsão domesticada. O ‘não! que não é negativo será a muito lenta obra
das regras da aprendizagem dos usos! Que por se terem tornado espontâneas, não são susceptíveis de serem
explicitadas pelo pensamento de que elas são a condição, os alicerces.
14. O que assim proponho, à minha maneira de
filosofia com ciências em
jeito de Heideggerrida, não se opõe ao que Nancy propõe, que o seu texto mostra bem a fecundidade da autonomia
do discurso filosófico, digamos assim. Ora, a fecundidade é o timbre do
pensamento, transbordar os
limites recebidos, como de tudo o que é-vivo-com, que do menos faz o mais:
crescer, eis o espanto, o enigma dos enigmas, passivo social que se activa como singular com singulares. Tanto espantou que lhe chamaram alma, sôpro, espírito.
[1] A que chamamos pensar?, ed. diaphanes,
2013
[2] Coisa / pensamento.
[3] Termo técnico em francês para
dizer o ‘pedido’ de fazer uma psicanálise.
[5] Que não transparece em Nancy. É claro que se trata dum
tratamento limitado da questão, dum pequeno episódio no desenrolar duma
conversa.
[6] Derrida lendo Freud (“Freud et la scène de l’écriture” in
L’écriture et la différence, Seuil, 1967, p. 303). Que acontecimentos posteriores
venham inscrever-se na memória como se das ‘origens’ se tratasse; os sonhos
repetem por vezes este processo de retorno, oferecem assim ao terapeuta uma via
real de acesso a essa antiga infância quando esta faz doer.
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