1. Jacques
Benveniste morreu em 2004 com 69 anos, na sequência de uma operação ao coração,
sem ter visto aceite a sua grande descoberta, nem sequer aceites as provas
laboratoriais que fez, como aliás outros laboratórios. Deixou um texto contando
a sua história, Ma vérité sur la ‘mémoire de l’eau’ (a minha verdade sobre a ‘memória
da água’), que os seus filhos publicaram na Internet (ed. Payot), 120 páginas.
É impressionante a guerra que lhe foi feita por cientistas de toda a espécie,
mesmo os que com ele colaboraram frequentemente o deixaram para salvarem a
reputação. Havendo entre esses adversários gente como Changeux e F. Jacob, é-se
levado a pensar que há algo nesta descoberta que põe em questão o paradigma da
ciência do sec. XX, aliás Benveniste, médico imunologista, reconhece que lhe
faltam conhecimentos de física para compreender os resultados inesperados das
suas experiências. A pequena guerra portuguesa no Público contra a homeopatia ilustra bem que
está aqui em jogo algo de teoricamente importante de mais.
2. Houve um
fenómeno relativamente parecido de desconforto da comunidade científica com
Ilya Prigogine, mas este químico obteve o Prémio Nobel, a sua guerra foi mais
mansa. Publiquei neste blogue o ano passado um texto intitulado Questão
prigogiana sobre a energia, a força e a entropia aonde se encontrará uma hipótese de
compreensão possível da questão da ‘memória da água’. Explica-se aí que a
Física europeia trata matematicamente de 'diferenças medidas' e não de 'substâncias', como era a Physica de Aristóteles. Quantidades e não qualidades ocultas,
reclamou Newton, como se interpretasse a experiência de Galileu - pesando água
para medir o tempo por não ter relógios precisos - concluindo que não se sabe o
que é a ‘qualidade’ do tempo (a sua substância) mas apenas quantidades medidas,
diferenças e proporções, dissera Galileu.
3. A Física é a
desconstrução da Physica de Aristóteles, Heidegger e Derrida, recusando oposições exclusivas, descendem de
Galileu e de Newton. A proposta implica a revisão do motivo de campo de
forças atractivas: as forças fundamentais da Física, nuclear,
electromagnética e da gravidade,
constituintes dos átomos, moléculas, graves e astros, as únicas das quais há
campos, são forças atractivas, e é porventura a razão pela qual não sabemos
imaginá-las, como Newton confessou e Feynmann diz que nós também não (a nossa
experiência intuitiva é justamente de forças locais, tão importantes na
dinâmica newtoniana). Ora, um campo de forças atractivas, de cargas eléctricas
ou de planetas, não é substancialmente nada, é resultado das forças das cargas ou dos planetas, substanciais
estas e estes, susceptíveis de medidas. A diferença entre o campo das forças e os astros ou graves que
o constituem é equivalente, mutatis mutandis, à diferença entre espécie biológica e os seus
indivíduos, uma língua e os seus discursos e textos, uma sociedade e as suas
populações: uma espécie biológica, uma sociedade, uma língua não são 'nada' de substancial, de observável fenonologicamente, só 'são' nos seus indivíduos (por isso é que a Thatcher dizia que a sociedade não existe). Afirmar num primeiro tempo o primado do ‘campo’ sobre os astros, só
se pode fazer apagando-o em seguida para se dizer que são o ‘mesmo’, um não vai
sem os outros, mas a proposta desse texto é de afirmar o primado epistemológico
do campo, ‘nada’, sobre as suas substâncias.
4. É claro que isto é discutível e
não haverá físicos capazes de entenderem a proposta, nem eu tenho estatuto
(apesar duma licenciatura em engenharia civil em 1956 no IST) para me bater por
ela. Proponho-a aos curiosos que calharem ler isto. Aplicado ao trabalho de
Benveniste, isto daria o seguinte. As suas experiências consistiram em fazer
dissoluções de moléculas orgânicas à maneira da homeopatia e verificar que, quando se chega além das dissoluções que implicam que não haja mais moléculas na água, esta
mantinha um efeito como se lhe ficasse na memória. Como? Talvez que, além da
substância molecular, o campo electromagnético se mantivesse na água.
5. Em vez da água por ser um líquido,
como fiz erroneamente na última linha do texto do Público, Brian Josephson dá o exemplo de “cristais
líquidos, que ao mesmo tempo que fluem como um fluido normal, podem manter uma
estrutura ordenada em distâncias macroscópicas”. Não sei que chegue para
entender este ‘como’. O físico de Cambridge continua. “não houve, que eu saiba,
qualquer refutação da homeopatia que permaneça válida actualmente depois de ter
em conta este ponto concreto”
1 comentário:
"Se quer encontrar os segredos do universo, pense em termos de energia, frequência e vibração.” – Nikola Tesla
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