Tradução,
introdução e notas de
Fernando Belo
[ Introdução
De la Grammatologie[1] é, por assim dizer, o manifesto
filosófico
de Jacques Derrida[2]: discurso (logos) da escrita
(grammé), esta não é portanto um capítulo entre outros, trata-se de repensar a
filosofia pensando a escrita na história ocidental. O livro
compõe-se de duas partes, a I das quais, “L’écriture avant la
lettre”, desenha o programa duma ciência positiva da escrita, mostrando
nomeadamente como Saussure descobriu que “a escrita é
a origem da linguagem” (p. 64), repetindo todavia o gesto
metafísico de redução da escrita para assentar a sua linguística
como ciência apenas das línguas orais. A II parte, “Nature, Culture, Écriture”,
propõe um exercício exemplar do programa anunciado,
uma leitura gramatológica do Ensaio sobre a
origem das línguas
de J. J. Rousseau. Escolhemos citar aqui o capítulo que explicita a metodologia
desta leitura.
Não será inadequada uma breve introdução a um pensamento
difícil, que põe em questão de forma muito fecunda alguns dos nossos
hábitos
mais arreigados de leitores de textos filosóficos e literários:
os que dizem respeito à leitura e à escrita e ao que se chama habitualmente
comunicação. É duma comunicação a um colóquio filosófico
sobre a comunicação[3] que resumirei
um argumento que ajudará a tomar o pulso ao que ainda
poderá ser novidade para alguns. Toda a gente pode dar-se
conta de que o que caracteriza um texto escrito é a ausência tanto do autor do
texto como do seu destinatário, o leitor a
que está destinado, já que ele pode ser lido por qualquer outra pessoa que
saiba ler: lido, isto é repetível, iterável, em outro contexto do que
o da sua escrita. Pode ser lido após a sua morte, a séculos de distância,
o que define a escrita como ruptura com a presença quer do autor quer do
contexto em que escreveu: isto é, ausência das suas intenções e querer-dizer,
da sua responsabilidade em responder por ele, pelo seu eventual
engano, ou desatenção. A escrita rompe com o horizonte da comunicação
pensado como comunicação de consciências,
com o horizonte hermenêutico do sentido,
ela tem a ver estruturalmente com a morte, por isso
Platão
a condenou em texto célebre do Fedro. Fê-lo segundo o privilégio
metafísico da presença, do pensamento e do discurso oral
sobre a escrita, que Derrida chamou logocentrismo
(e à proximidade da voz à alma, fonocentrismo). Depois de assim
sistematizar o escrito como marca que permanece
para além do presente da sua inscrição, que é repetível
em ruptura com o contexto desta e de mostrar que essa força de ruptura
só é possível por causa do espaçamento que constitui o signo
escrito (o qual espaçamento permite o fenómeno estrutural da citação:
retirar tal sintagma do seu contexto e enxertá-lo num outro),
o argumento termina-se mostrando como estas três características
da escrita também o são da linguagem oral; seja o seguinte exemplo: “se eu digo
olhando pela janela ‘o céu está azul’, este enunciado será inteligível (digamos
provisoriamente comunicável) mesmo que o meu interlocutor
não veja o céu; mesmo se eu próprio o não vejo, o vejo mal, se me engano
ou se quero enganar o meu interlocutor”. Um enunciado oral também pode pois ser
citado
noutro contexto, anos após a morte daquele que o disse, uma frase filosófica
relembrada
entre discípulos que se reencontram para a escrever.
Por exemplos não corriqueiros: Platão parece ter pretendido
fazê-lo a Sócrates, como também terá sucedido a um tal Jesus.
É justamente como ‘inscrição cerebral’ ou rasto (trace) que a linguagem
se transmite de geração em geração, além da morte mais uma vez e das
mudanças de contexto. E o enigma aí é como esse ‘rasto’ dos outros se torna
voz-e-discurso do que era antes ‘infans’, não falante, como o recebido
passivamente assim se activa sem deixar de ser recebido, mas sem a
consciência de tal recepção. E ao que lhe ouço dizer como fala
sua, pensamento seu, só tenho acesso porque as palavras
que diz são, todas, citações: palavras de todos e de ninguém,
inscrições orais, à maneira dos provérbios. E pelas quais se estabelece
relação estrutural ao Outro, assim Derrida alterando a herança do ‘rasto’
recebida de Lévinas. E a de Husserl, já que desloca a sua redução fenomenológica
das intuições (sensível, categorial, eidética) de entes para a
diferença entre as diferenças sonoras (como o mesmo) e os próprios sons (não
idênticos de voz para voz)[4], libertando
o motivo da ‘différance’[5], diferente no escrever que
não no dizer de ‘différence’, e assim altera a herança de Heidegger
colocando a temporalização, a par do espaçamento
acima aludido, no coração de tudo o que se institui como ente, antes mesmo da
diferença
ontológica e do seu privilégio do Dasein humano.
E desenvolvendo por aqui se entenderia como Derrida
estende
a ‘trace’ ou ‘différance’ a outros domínios mais gerais, como o da habitação
humana[6] e o da evolução
dos vertebrados, acompanhando Leroi-Gourhan na descrição da
“lenta transformação da motricidade manual que liberta o sistema
áudio-fónico para a fala, o olhar e a mão para a escrita”[7].
Os inumeráveis textos de Derrida são sempre leituras
de outros
textos, quer filosóficos (Husserl, Heidegger e Lévinas, claro, e Platão,
Aristóteles, Rousseau, Condillac, Kant, Hegel, Marx, Nietzsche,
Bataille, Foucault, Austin...), quer de ciências humanas (Saussure, Freud, Lévi-Strauss,
Benveniste, Lacan, J. Rousset, Paul de Man...), quer literários (E. Jabès,
Artaud, Mallarmé, Valéry, Ponge, Celan, Joyce, Shakespeare...). Até um texto
autobiográfico,
em torno da doença e morte de sua mãe, foi escrito em cruzamento
com a leitura das Confissões de Agostinho! Nesta maneira de assim se escrever
lendo outros fortes textos, não se trata apenas de ‘sentido’, mas
também de conflitos de forças: qualquer texto é sempre heterogéneo,
a sua busca de homogeneidade (ou discurso, n. 10) é jogo de vários
textos e seus embates. É essa heterogeneidade (ou texto, n. 10) que a
leitura ‘desconstrutiva’ de Derrida procura, mais do que exibir,
fazer ressaltar em seus conflitos, de maneira a que ganhem
nova força de pensamento no contexto da nossa modernidade, ajudem a
pensar os seus conflitos e crises.
Porquê Rousseau? Derrida explica-se assim: “Se a história da metafísica
é a história duma determinação do ser como presença[8], se a sua aventura se
confunde com a do logocentrismo, se ela se produz inteiramente como redução do
rasto, a obra de Rousseau parece-nos ocupar, entre o Fedro de Platão e a Enciclopédia de Hegel, uma situação
singular. [...] no interior desta época da metafísica, entre Descartes e
Hegel, Rousseau é sem dúvida o único ou o primeiro a fazer um tema e um sistema
da redução
da escrita, tal como ela é profundamente implicada por toda a época.
Ele repete o movimento inaugura do Fedro e do De interpretatione mas desta vez a partir dum
novo modelo da presença: a presença a si do sujeito na
consciência ou no sentimento. [...]”[9].
A leitura seguirá como fio o motivo de suplemento
que, no texto de Rousseau, corresponde a um duplo movimento do desejo, em que
“ele valoriza e desqualifica à vez a escrita [...] o primeiro
movimento deste desejo formula-se como uma teoria da linguagem;
o outro governa a experiência do escritor” (p. 204). “[...] a palavra
suplemento parece aqui dar conta da estranha unidade destes dois gestos. Em
ambos os casos, com efeito, Rousseau considera a escrita como um meio
perigoso,
um socorro
ameaçador, a resposta crítica a um momento de desgraça. [...] o conceito de
suplemento abriga nele duas significações cuja coabitação é tão estranha
quão necessária. O suplemento acrescenta-se, é um ‘surplus’, uma plenitude que
enriquece outra plenitude, o cúmulo da presença. [...] É assim
que a arte, a techné, a imagem, a representação, a convenção, etc.,
vêem em suplemento da natureza com a riqueza de toda esta função de cumular.
Esta espécie de suplementaridade determina duma certa
maneira todas as oposições conceptuais nas quais Rousseau
inscreve a noção de natureza enquanto ela deveria bastar-se
a si mesma. Mas o suplemento supre. Só acrescenta para substituir (remplacer).
Intervém ou insinua-se em-vez-de (à-la-place-de); se
ele cumula, é como se cumula um vazio. Se representa e
faz imagem, é pelo defeito anterior duma presença. Suplente e
vicário, o suplemento é um adjunto, uma instância subalterna que
está-em-vez-de. [...] À diferença do complemento, dizem
os dicionários, o suplemento é uma ‘adição exterior’ (Robert)”.(pp. 207-208). O
que falta e que é suprido, será caracterizado como uma “cegueira”: “a cegueira
ao suplemento é a lei” (p. 214). Mas também Rousseau refere o seu vício do
onanismo como um suplemento à sua querida Teresa.]
Texto
[...] Jean-Jacques não poude assim procurar
um suplemento
a Teresa senão com uma condição: que o sistema da suplementaridade em geral
estivesse já aberto na sua possibilidade, que o sistema das substituições
tivesse começado desde havia muito tempo e que duma certa maneira
a própria Teresa fosse já ela um suplemento. [...] Eis a cadeia dos suplementos. O
nome de Mamã designa já um:
“Ah,
Teresa minha! estou muito feliz [...] Era preciso em vez da ambição extinta um sentimento
vivo que preenchesse o meu coração. Era preciso, para dizer
claramente, um sucessor para a Mamã; [...] Quando estava absolutamente só
o meu coração estava vazio, mas bastaria um para o preencher. A sorte tinha-mo tirado,
pelo menos tinha-mo alienado em parte, aquele para o qual a natureza me tinha
feito. Desde então estava só, pois que nunca houve para mim intermediário
entre tudo e nada. Encontrava em Teresa o suplemento
de que precisava”
(Confissões,
pp. 331-332 (nós sublinhamos). Starobinski (La transparence
et l’obstacle,
p. 221) e os editores das Confissões (p. 332, n. 1) aproximam justamente
o uso da palavra suplemento do que é feito na p. 109 (“suplemento perigoso”)(nota
do autor).
Através
desta sequência de suplementos anuncia-se uma necessidade: a dum encadeamento
infinito, multiplicando inelutavelmente as mediações
suplementares que produzem o próprio sentido daquilo mesmo que elas diferem:
a miragem da própria coisa, da percepção imediata, da percepção originária.
Tudo começa pelo intermediário, eis o que é “inconcebível à
razão”.
O exorbitante. Uma questão de método
“Nunca
para mim [há] intermediário entre tudo e nada”. O intermediário é o meio e é a
mediação, o termo médio entre a ausência total e a plenitude
absoluta da presença. Sabe-se que a mediatidade é o nome de tudo o que
Rousseau quis teimosamente apagar. Esta vontade exprimiu-se de maneira
deliberada, aguda, temática. Não precisa de ser decifrada. Ora Jean-Jacques
recorda-a aqui no próprio momento em que está a soletrar os suplementos que se
encadearam
para substituir uma mãe ou uma natureza. E o suplemento
aqui tem o meio entre a ausência e a presença totais. O jogo da substituição
cumula e marca uma falta (manque) determinada. Mas Rousseau encadeia como se o
recurso ao suplemento - aqui a Teresa - fosse apaziguar a sua impaciência diante do
intermediário: “Desde então estava só, pois que nunca houve para mim intermediário
entre tudo e nada. Encontrava em Teresa o suplemento de que precisava”.
A virulência deste conceito é assim apaziguada, como se se tivesse podido razoabilizá-lo, domesticá-lo, cativá-lo.
Isto
põe a questão do uso da palavra ‘suplemento’: da situação de Rousseau no
interior da língua e da lógica que asseguram a esta palavra ou a este conceito
recursos suficientemente surpreendentes para que o sujeito presumido da frase
diga sempre, ao servir-se de ‘suplemento’, mais, menos ou outra coisa do que quereria
dizer.
Devemos começar por fazer uma conta rigorosa desta presa (prise) ou desta surpresa: o escritor escreve em uma língua e em uma lógica de
que, por definição, o seu discurso não pode dominar absolutamente
o sistema, as leis e a vida própria. Ele não se serve delas senão deixando-se
duma certa maneira e até um certo ponto governar pelo sistema. E a leitura
deve sempre visar uma certa relação, desapercebida do escritor, entre o que ele
comanda e o que ele não comanda dos esquemas da língua que usa.
Esta relação não é uma certa repartição quantitativa de sombra e de luz, de
fraqueza ou de força, mas uma estrutura significante que a leitura crítica deve
produzir.
Que
quer dizer aqui produzir? Ao tentar explicá-lo, quereríamos
começar uma justificação dos nossos princípios de leitura. Justificação,
ver-se-á, toda ela negativa, desenhando por exclusão um espaço de leitura que
não preenchemos aqui: uma tarefa de leitura.
Produzir
esta estrutura significante não pode evidentemente consistir em
reproduzir, pelo redobrar apagado e respeitoso do comentário, a relação
consciente, voluntária, intencional[10], que o escritor
institui nas suas trocas com a história a que pertence graças ao elemento
da língua. Sem dúvida que este momento do comentário que redobra tem que ter o
seu lugar na leitura crítica. Se se não reconhecer e respeitar todas as
suas exigências clássicas, o que não é fácil e exige todos os instrumentos da
crítica tradicional, a produção crítica arriscar-se-ia a fazer-se
em qualquer sentido e a se autorizar a dizer praticamente ‘n’importe quoi’. Mas
este ‘garde-fou’ (balaustrada) indispensável nunca fez mais do que proteger, nunca abriu uma leitura.
E
todavia, se a leitura não se deve contentar com redobrar o texto, ela não pode
legitimamente transgredir o texto em direcção a outra coisa que não ele, em
direcção a um referente (realidade metafísica, histórica, psico-biográfica,
etc.) ou em direcção a um significado fora do texto cujo
conteúdo poderia ter lugar, poderia ter tido lugar fora da língua, isto é, no
sentido que damos aqui a esta palavra, fora da escritura em
geral. É por isso que as considerações metodológicas que arriscamos
aqui num exemplo são estreitamente dependentes das proposições
gerais que elaborámos mais acima, quanto à ausência do
referente ou do significado transcendental. Não há fora-do-texto[11]. E isso não porque a vida de
Jean-Jacques não nos interessa para começar, nem a existência da Mamã ou de
Teresa elas mesmas, nem porque não temos acesso à sua existência dita ‘real’
senão no texto e que não temos outro meio de fazer de outra maneira, nem nenhum
direito de negligenciar esta limitação. Todas as razões
deste tipo já seriam suficientes, é certo, mas há outras mais radicais. O que
tentámos demonstrar seguindo o fio condutor do ‘suplemento perigoso’, é que no
que se chama a vida real destas existências ‘em carne e osso’, além daquilo que
se pode circunscrever como a obra de Rousseau, e atrás
dela, nunca houve senão escritura; não houve nunca senão suplementos,
significações substitutivas que não puderam surgir senão numa
cadeia de reenvios diferenciais, o ‘real’ não
sobrevindo, não se acrescentando a não ser ganhando sentido a partir dum rasto
(trace) e dum apelo de suplemento, etc. E assim até ao
infinito pois que nós lemos, no texto, que o presente absoluto, a natureza, o
que nomeiam as palavras ‘mãe real’, etc., já se tinham sempre subtraído, nunca
existiram; que o que abre o sentido e a linguagem, é esta escritura como
desaparecimento da presença natural.
Ainda
que ela não seja um comentário, a nossa leitura deve ser interna e permanecer
no texto. É por isso que, apesar de algumas aparências, o assinalar da
palavra suplemento não tem aqui nada de psicanalítico, se
se entende por tal uma interpretação que nos transporte para fora da
escritura para um significado psico-biográfico ou mesmo para uma
estrutura psicológica geral que se pudesse separar de direito do
significante. Este último método poude aqui ou ali opor-se ao
comentário redobrante e
tradicional: poder-se-ia mostrar que ela se compõe em verdade facilmente com
ele. A segurança com que o comentário considera a
identidade a si do texto, a confiança com que ele lhe recorta o contorno, faz
parceria com a segurança tranquila que salta por cima
do texto para o seu conteúdo presumido, do lado do puro significado. E de facto, no caso de
Rousseau, estudos psicanalíticos do tipo do do Dr. Laforgue não transgridem o
texto senão depois de o terem lido segundo os métodos mais correntes. A leitura
do ‘sintoma’ literário é a mais banal, a mais escolar, a mais ingénua. E uma
vez que se se tornou assim cego ao próprio tecido do ‘sintoma’, à sua própria
textura, ele é excedido alegremente para um significado
psico-biográfico cujo laço com o significante literário se torna
então perfeitamente extrínseco e contingente. Reconhece-se a outra
face do mesmo gesto quando, em obras gerais sobre Rousseau, num conjunto de forma
clássica que se dá por uma síntese restituindo fielmente, por comentário e
recolha de temas, o conjunto da obra e do pensamento, se encontra um capítulo
de recorte biográfico e psicanalítico sobre o “problema da sexualidade em
Rousseau”, com reenvio, em apêndice, ao dossier médico do autor.
Se
nos parece impossível em princípio separar, por interpretação
ou comentário, o ‘signifié’[12] do significante, e de
destruir assim a escrita pela escrita que é ainda a leitura, cremos no entanto
que esta impossibilidade se articula historicamente. Ela não limita da
mesma maneira, ao mesmo grau e segundo as mesmas regras, as tentativas de
decifração. Há que ter em conta aqui a história do texto em geral. Quando
falamos do escritor e do pendor da língua a que ele está submetido, não
pensamos apenas no escritor na literatura. O filósofo, o cronista,
o teórico em geral e no limite qualquer escritor é assim surpreendido. Mas, em
cada caso, o escritor é inscrito num sistema textual determinado.
Mesmo se não há nunca ‘signifié’ puro, há relações diferentes quanto ao que
do significante se dá
como estrato irredutível de ‘signifié’. Por exemplo, o texto filosófico,
embora ele seja de facto sempre escrito, comporta, precisamente
como sua especificidade filosófica, o projecto de se apagar diante do conteúdo
significado que ele transporta e em geral ensina[13]. A leitura deve ter em conta
este propósito, mesmo se, em última análise, ela tenciona
fazer aparecer o seu fracasso. Ora toda a história dos textos, e nela a
história das formas literárias no Ocidente, deve ser estudada deste ponto de
vista. À excepção duma ponta ou dum ponto de resistência que só muito tarde se
reconheceu como tal, a escrita literária prestou-se dela mesma,
quase sempre e quase em todo o lado, segundo modos e através de idades muito diversas, a esta leitura transcendente, a esta busca do significado
que nós pomos aqui em questão, não para a anular mas para a
compreender num sistema a que ela é cega. A literatura filosófica não é senão
um exemplo nesta histórica mas é um dos mais significativos. E que nos interessa
particularmente no caso de Rousseau. Que ao mesmo tempo e por razões profundas
produziu uma leitura filosófica a que pertencem o Contrato Social e a Nova Heloísa, e escolheu
existir pela escrita literária: por uma escrita que não se esgotasse
na mensagem - filosófica ou outra - que ela pudesse, como se diz, libertar. E o
que Rousseau disse, como filósofo ou como psicólogo, da escrita em geral, não
se deixa separar do sistema da sua própria escrita. Há que o ter em
conta.
O
que põe problemas temíveis. Problemas de corte [découpage] em particular. Demos três
exemplos.
1.
Se o trajecto que seguimos na leitura do ‘suplemento’ não é simplesmente psicanalítico,
é sem dúvida porque a psicanálise habitual da literatura começa por
pôr entre parêntesis o significante literário como tal. È sem dúvida
também porque a própria teoria psicanalítica é para nós um
conjunto de textos pertencente à nossa história e à nossa cultura. Nesta
medida, se ela marca a nossa leitura e a escrita da nossa interpretação, não o
faz como um princípio ou uma verdade que se pudesse subtrair do sistema textual
que habitamos para o aclarar em total neutralidade. Duma certa
maneira, nós estamos na
história da psicanálise como estamos no texto de Rousseau. Assim como Rousseau
bebia numa língua que já lá estava - e que sucede ser, em certa medida, a
nossa, assegurando-nos assim uma certa legibilidade mínima da
literatura francesa - assim também nós circulamos hoje numa certa rede de
significantes marcados pela teoria psicanalítica,
ainda quando não a dominamos, ainda que estejamos certos de nunca a poder
dominar perfeitamente.
Mas
é por uma outra razão que não se trata aqui duma psicanálise, ainda que
balbuciante, de Jean-Jacques Rousseau. Uma tal psicanálise deveria ter já
repertoriado todas as estruturas de pertença do texto de Rousseau,
tudo o que não lhe é próprio por ser, em razão do pendor e do já-lá da língua
ou da cultura, habitado mais do que produzido pela escrita. Em torno
do ponto de originalidade irredutível desta escrita
organizam-se, envolvem-se e recobrem-se uma imensa série de
estruturas, de totalidades históricas de toda a ordem. Supondo que a psicanálise
pudesse,
de direito, conseguir recortá-las e interpretá-las,
supondo que ela pudesse dar conta de toda a história da metafísica ocidental
que entretém com a escrita de Rousseau relações de habitação,
seria ainda necessário que ela elucidasse a lei da sua própria
pertença à metafísica e à cultura ocidental. Não continuemos neste
sentido. Já medimos a dificuldade da tarefa
e a parte de fracasso na nossa interpretação do suplemento. Estamos certos de que
algo de irredutivelmente rousseauista está aí capturado mas trouxemos junta, ao
mesmo tempo, uma massa ainda bem informe de raízes, de terra e de sedimentos de
toda a espécie.
2.
Supondo mesmo que se possa isolar rigorosamente a obra de Rousseau e
articulá-la na história em geral, depois na história do signo
‘suplemento’, seria ainda preciso ter em contas muitas outras possibilidades.
Seguindo as aparições da palavra ‘suplemento’ e do ou dos conceitos
correspondentes, percorre-se um certo trajecto no interior do texto de
Rousseau. Este trajecto garantir-nos-á, é certo, a economia duma sinopse. Mas
não são possíveis outros trajectos? E enquanto a totalidade dos trajectos não
for esgotada
efectivamente, como justificar este?
3.
No texto de Rousseau, depois de ter indicado, por anticipação e
em prelúdio, a função do signo ‘suplemento’, prestamo-nos a privilegiar, duma
maneira que alguns não deixarão de julgar exorbitante, certos textos, como o Ensaio
sobre a origem das línguas
e outros
fragmentos sobre a teoria da linguagem e da escrita. Com que direito? E porquê
estes textos curtos, publicados na maior parte depois da morte do autor,
dificilmente classificáveis, duma data e duma inspiração incertas?
A
todas estas questões e no interior da lógica do sistema delas, não há resposta
satisfatória. Numa certa medida e apesar das precauções
teóricas que formulamos, a nossa escolha é com efeito exorbitante.
Mas
o que é o exorbitante?
Nós
quereríamos atingir o ponto duma certa exterioridade em relação à totalidade
da época logocêntrica. A partir deste ponto de exterioridade, uma certa
desconstrução poderia ser encetada nessa totalidade, que é também um
caminho traçado, dessa orbe (orbis[14]) que é também orbitária (orbita). Ora o primeiro gesto desta
saída e desta desconstrução, ainda que esteja submetido a uma certa necessidade
histórica, não se pode dar seguranças metodológicas ou lógicas
intra-orbitárias. No interior da clausura, não se pode julgar o seu estilo
senão em função de oposições recebidas. Dir-se-á que esse estilo
é empirista e duma certa maneira ter-se-á razão. A saída é radicalmente empirista.
Procede à maneira dum pensamento errante sobre a possibilidade do
itinerário e do método. Afecta-se de não-saber como de seu futuro e
deliberadamente aventura-se. Nós próprios
[já] definimos a forma e a vulnerabilidade deste empirismo. Mas aqui
o conceito de empirismo destroi-se a si mesmo. Exceder a orbe metafísica
é uma tentativa para sair da roda [ornière] (orbita), para pensar o todo das
oposições conceptuais clássicas, em particular aquela em que está
apanhado o valor de empirismo: a oposição da filosofia e da não-filosofia,
outro nome do empirismo, desta incapacidade em sustentar por si
mesmo até ao fim a coerência do seu próprio discurso, de se produzir
como verdade no momento em que se abala o valor de verdade, de escapar às
contradições internas do cepticismo, etc. O pensamento desta
oposição histórica entre a filosofia e o empirismo não é
simplesmente empírico e não se pode qualificá-lo assim sem abuso e ignorância
[méconnaissance].
Especifiquemos
este esquema. O que é que há de exorbitante na leitura de Rousseau? Sem dúvida
que Rousseau, já o sugerimos, não tem senão um privilégio relativo
na história que nos interessa. Se o quiséssemos simplesmente situar nessa história,
sem dúvida que a atenção que lhe concedemos seria desproporcionada. Mas não se
trata disso. Trata-se de reconhecer uma articulação decisiva da época
logocêntrica. Para este reconhecimento, Rousseau pareceu-nos ser um revelador
muito bom. Isto supõe evidentemente que já tenhamos
iniciado a saída, determinado a repressão da escrita como operação fundamental
da época, lido um certo número de textos mas não todos os textos, um certo
número de textos de Rousseau mas não todos os textos de Rousseau. Esta
confissão de empirismo só se pode sustentar pela qualidade [vertu] da questão.
A abertura da questão, a saída fora da clausura duma evidência,
o abalo [l’ébranlement] dum sistema de oposições, todos
estes movimentos têm necessariamente a forma do empirismo e da errância.
Não podem
em todo o caso ser descritos, em relação às normas passadas, senão sob esta forma. Nenhum
outro rasto está disponível, e como estas questões errantes não são começos
inteiramente absolutos, deixam-se efectivamente atingir, em toda uma superfície
delas, por esta descrição que é também uma crítica. Há que
começar algures onde estamos [il faut commencer quelque part où nous sommes] e o pensamento
do rasto [trace], que não pode deixar de ter em conta o faro, já nos ensinou
que era impossível justificar absolutamente um ponto de
partida.
Algures onde estamos:
já num texto onde cremos estar.
Estreitemos
ainda mais a argumentação. O tema da suplementaridade não é sem dúvida, em
certos aspectos, senão um tema entre outros. Ele situa-se numa cadeia [chaine],
sustido por ela. Talvez se lhe pudesse substituir outra coisa. Mas sucede
que ele descreve a própria cadeia, o ser-cadeia duma cadeia textual, a estrutura
da substituição, a articulação do desejo e da
linguagem, a lógica de todas as oposições
conceptuais carregadas [prises en charge] por Rousseau, e em particular o papel e o
funcionamento, no seu sistema, do conceito de natureza. Ele diz-nos no texto o
que é um texto, na escrita o que é a escrita, na escrita de Rousseau o desejo de
Jean-Jacques, etc. Se considerarmos, segundo o propósito axial deste
ensaio, que não há nada fora do texto, a nossa última justificação
seria então a seguinte: o conceito de suplemento e a teoria da escrita
designam, como se diz hoje tão frequentemente, em abismo[15], a própria textualidade no
texto de Rousseau. E veremos que o abismo não é aqui um acidente, feliz ou
infeliz. Toda uma teoria na necessidade estrutural do abismo se
constituirá a pouco e pouco na nossa leitura; o processo indefinido da suplementaridade
encetou
sempre já a presença, inscreveu sempre já nela o espaço da repetição e
do desdobramento de si. A representação em abismo da presença não é um acidente
de presença; o desejo da presença nasce pelo contrário do abismo da
representação, da representação da representação, etc. O próprio
suplemento
é, em todos os sentidos desta palavra, exorbitante.
Rousseau
inscreve portanto a textualidade no texto. Mas a sua operação não é simples.
Ela joga astutamente com um gesto de apagamento; e as relações
estratégicas como as relações de força entre os dois movimentos formam
um desenho complexo. Este parece-nos representar-se no manejamento do conceito
de suplemento. Rousseau não o pode utilizar ao mesmo tempo
em todas as suas virtualidades de sentido. A maneira
como ele o determina e, ao fazê-lo, se deixa determinar por isso mesmo que ele
[Rousseau] exclui dele [do conceito de suplemento], o sentido
em que ele o inflecte, aqui como adição, acolá como
substituto, umas vezes como positividade e exterioridade
do mal, outras como auxiliar feliz, nada disto traduz nem uma passividade nem
uma actividade, nem uma inconsciência nem uma lucidez do autor. A
leitura deve não só abandonar estas categorias - que são também,
recordemos de passagem, categorias fundadoras
da metafísica[16] - mas produzir a lei desta
relação ao conceito de suplemento. Trata-se efectivamente de uma produção e não
de redobrar simplesmente o que Rousseau pensava dessa relação.
O conceito de suplemento é uma espécie de mancha cega no texto de Rousseau, o
não-visto que abre e limita a visibilidade. Mas a produção, se
procura dar a ver o não-visto, não sai aqui do texto. Nunca aliás o julgou
fazer senão por ilusão. [Esta] está contida na transformação da língua
que ela designa, nas trocas regradas entre Rousseau e a história. Ora nós
sabemos que estas trocas não passam senão pela língua e pelo texto, no sentido
infra-estrutural que reconhecemos agora a esta palavra. E o que
nós chamamos a produção é necessariamente um texto, o sistema duma
escrita
e duma leitura de que sabemos a priori, mas só agora, e dum saber que não é um
saber, que elas se ordenam em torno da sua própria mancha cega[17].
[ O leitor entenderá agora mais facilmente o pequeno
extracto
que segue, ‘avant-propos’ sem título a “La pharmacie de Platon” (uma leitura da
filosofia platónica da escrita como pharmakon, remédio e veneno ao
mesmo tempo), aonde Derrida polemica com semióticas e hermenêuticas
que se querem ‘neutras’. ]
Um
texto não é um texto se não esconde ao primeiro olhar, ao recém chegado, a lei
da sua composição e a regra do seu jogo. Um texto aliás permanece sempre
imperceptível. A lei e a regra não se abrigam no inacessível dum segredo,
só que não se entregam nunca, ao presente, a algo que se possa rigorosamente
chamar uma percepção.
Com
o risco sempre e por essência de se perder assim definitivamente.
Quem saberá alguma vez de tal desaparecimento?
A
dissimulação da textura pode em qualquer caso levar séculos a
desfazer a sua teia. A teia envolvendo a teia. Séculos a desfazer a teia.
Reconstituindo-a também como um organismo. Regenerando indefinidamente o seu
próprio tecido atrás do rasto que corta, da decisão de cada leitura. Reservando
sempre uma surpresa à anatomia ou à fisiologia duma crítica que julgasse
dominar o seu jogo, vigiar simultaneamente todos os fios,
enganando-se também por querer olhar o texto sem lhe tocar, sem
meter a mão no ‘objecto’, sem se arriscar a acrescentar-lhe qualquer novo fio,
única ‘chance’ de entrar no jogo deixando os dedos
prenderem-se nele. Acrescentar não é aqui mais do que dar a ler. Há que pensar
isto: não se trata de bordar, a não ser que se ache que saber bordar é ainda
ser-se entendido em seguir o fio dado. Isto é, se quiserem seguir-nos,
o fio escondido. Se há uma unidade da leitura e da escrita, como se pensa
facilmente hoje, se a leitura é a escrita, esta unidade não designa nem a
confusão indiferenciada nem a identidade repousada, de que há que desligar o é que copula
a leitura à escrita.
Seria
portanto necessário, dum só gesto, mas desdobrado, ler e escrever. E
alguém que por isso se sentisse autorizado a acrescentar ‘n’importe quoi’, não
teria compreendido nada ao jogo. Não acrescentaria nada, a costura não se
aguentaria. Reciprocamente nem sequer leria aquele que a
‘prudência metodológica’, as ‘normas da objectividade’ e os ‘garde-fous do
saber’ retivessem de lhe meter algo de seu. Seria a mesma imbecilidade, a mesma
esterilidade de ‘não sério’ e do ‘sério’. O suplemento de
leitura ou de escrita deve ser rigorosamente prescrito[18], mas pela necessidade de um
jogo, signo a que há que conceder todos os seus poderes.[19]
16.12.1999
[1] 1967,
Minuit.
[2] “Que
Heidegger tem, diz-se, pelo único filósofo
contemporâneo digno desse nome” (John E. Jackson, “Jacques Derrida: un auteur
ardu, mais le seul philosophe
contemporain
qu’admire Heidegger”, secção
de crítica literária do Journal de Genève, 2.12.1972, recensão de La
dissémination, Seuil, e de Marges e Positions, ambos Minuit).
[3] Dos raros
textos de Derrida existentes em tradução portuguesa, “Assinatura acontecimento
contexto” encerra Margens. Da Filosofia, Rés, Porto.
[5] Que permite
ter em conta, na palavra ‘diferença’, o sentido temporal (de adiar) do verbo diferir (latim differre).
[7] Idem, p.
126.
[8] Reconhece-se
o heideggerianismo de Derrida.
[9] Idem, p.
147.
[10] A que
Derrida chama ‘discurso’, diferente do ‘texto’: “[...] de maneira um pouco
convencional, chamamos aqui discurso a representação actual, viva,
consciente dum texto na experiência daqueles
que o escrevem ou o lêem [...] o texto transborda sem cessar esta representação por todo o sistema
dos seus recursos e das
suas leis próprias [...]” (Idem, p. 149); quando se fala ou se escreve, ninguém pode ter consciência das leis
linguísticas e textuais que operam no discurso que diz ou escreve,
somos inevitavelmente transbordados por efeitos textuais (legíveis
por outros, porque segundo regras da língua) não conscientes. Esta distinção - entre o que “Rousseau declara e quer
pensar” e o que ele
”descreve” (pp. 325-6, 338, 441; p. 340: “descreve em contrabando”), entre o
que ele quer dizer/escrever e o que ele diz/escreve/faz
-
é o fio da leitura derridiana. Que termina assim: “Mas se Rousseau pôde dizer
que ‘se escrevem as
vozes e não os sons’, é porque as vozes se distinguem dos sons por aquilo mesmo que permite a
escrita, a saber a consoante
e a articulação. Estas só se substituem a si mesmas. A articulação, que substitui o acento, é a
origem das línguas. A alteração [da oralidade] pela escrita é uma exterioridade
originária. Ela é a origem da
linguagem. Rousseau descreve-o sem o declarar. Em contrabando. Uma
fala sem princípio consonântico, isto é, segundo Rousseau, uma fala abrigada de
qualquer escrita, não seria
uma fala: estaria no limite fictício do grito inarticulado e puramente natural
(em nota: Rousseau sonha com uma língua inarticulada mas descreve a origem das
línguas como passagem do grito
à articulação).” (pp. 443-4).
[11] Esta tese,
surpreendente à primeira vista, radicaliza até ao texto escrito o retorno de
Heidegger à mesmidade do pensar-dizer-ser de Parménides (e a que Platão e
Aristóteles ainda são fieis). O mesmo não é o idêntico, as palavras, sonoras ou
gráficas, não são as coisas, mas não são palavras se não disserem as coisas,
sendo a nossa maneira de saber delas, em que olhos e mãos, trabalho e escrita, também com a fala (boca e ouvidos)
se jogam; eis uma outra maneira de dizer a gramatologia.
[12]
‘Significado’, em português, traduz ‘signification’ (o sentido de cada palavra tal como os dicionários o dão com um
sinónimo, isto é separável do significante de entrada); o neologismo saussuriano ‘signifié’ (enquanto substantivo,
tal como ‘significante’) indica o
efeito (polissémico segundo o contexto)
em cada ‘significante’ do jogo de diferenças linguísticas ao nível da articulação da palavra à frase e ao discurso; ‘significante’, por sua vez, diz o efeito desse mesmo
jogo ao nível da articulação palavra / fonemas. ‘Signifié’ não tem correspondente em português (nem que eu saiba em inglês ou
outras línguas latinas). A
inseparabilidade de que
fala o autor, que é óbvia na poesia, resulta da dupla articulação da
linguagem, segundo Martinet, ser ‘uma’ articulação
(dupla), e não ‘duas’ articulações separadas.
[13] A definição
é justamente o privilegiar da ‘significação’ sobre o significante, do pensar sobre o dizer, de ambos
sobre o escrever: foi assim que, com Platão e Aristóteles, a filosofia cortou
com a poesia, onde letra e sentido são indissociáveis, com a literatura. Não se
trata de ser ‘contra’ a definição, sem a qual não há filosofia, mas de avaliar as suas consequências
históricas.
[14] Qualquer
espécie de círculo, em latim.
[15] Sem fundo (Abgrund, em
Heidegger), sem oposição superficial/profundo,
cada elemento textual reenviando para outros e estes para outros ainda, num
jogo indefinido, sem solo, espiritual ou material, a que arrimar a interpretação, sem fora do texto que lhe valha como
justificação.
[16] Em relação
com as de interioridade do sujeito / exterioridade do objecto, a ‘actividade’
dizendo a iniciativa daquele, a ‘passividade’ a deste.
[18] Rigor, mas
também “simpatia”. A um dado momento da leitura do Ensaio de Rousseau,
Derrida escreve: “Neste ponto, o conceito de natureza torna-se ainda mais
enigmático e se se quer que Rousseau não se contradiga, é preciso um grande
gasto de análise e de simpatia” (De la Grammatologie, p. 331).
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