1. Há vários anos já, como atestam
alguns textos deste blogue listados no final deste, que me tenho atrevido a
escrever publicamente sobre economia sem ser economista (nenhum número apareceu
nesses textos) e advogado a necessidade duma reformulação da ciência económica,
de ordem terapêutica ou pragmática, pois falta pensamento teórico de ordem económica
à Esquerda, capaz de mobilizar estratégias e energias. Tratar-se-á de lhe dar
orientações estratégicas adequadas aos tempos presentes de guerra de capitais
financeiros desenfreada global e electronicamente desde que Reagan e Thatcher
puseram Friedmann a mandar nas economias. O Capital no século XXI de Thomas Piketty, segundo a resenha de João
Constâncio no Público de 16 de
Maio, parece ser o livro tão esperado, que eu resumiria desta forma: sendo
necessário o capitalismo ao desenvolvimento humano, ele só será viável
democraticamente sob a forma da social democracia, com redistribuição por via de impostos dos capitais (acumulados), de maneira a
garantir confortavelmente o Estado social e a impedir que a guerra dos capitais
destrua as economias, a aliança entre empresas e famílias que é a sociedade
moderna. O Estado tem o papel essencial de regulador, de maneira articulada com
a escola e os médias democráticos para que uma opinião pública esclarecida
possa apoiar e ser apoiada por esta reformulação da ciência económica.
2. Sem dúvida que são imensas as
dificuldades para impor esta nova visão em sociedades interligadas cada vez
mais por mercados sem cabeça central nacional, numa União Europeia ameaçada de
nacionalismos egoístas, bem como numa globalização em que países emergentes de
enormes populações procuram afirmar-se como potências. Mas o que me parece
certo é que sem uma teoria económica contrariando as desigualdades criadas pelo
“pensamento único” não há réstea de esperança possível. A convicção politica
que a nova economia traga aos partidos de Esquerda será decisiva, não apenas
nos seus círculos tradicionais mas também aonde um partido de centro direita se
denomina de ‘social democrata’ e junto de quem se reconheça na doutrina social
dos predecessores do novo Papa que denuncia corajosamente “a economia que mata”, doutrina que pode ser revisitada
como exigindo a redistribuição fiscal que tornará possíveis Estados sociais sustentados.
Não apenas a Esquerda mas toda a gente “de boa vontade”, como dizia uma célebre
encíclia de 1962, Pacem in Terris, todos os que se têm indignado com a visão da destruição das economias que
tem feito a “Austeridade” dos pobres e remediados para devolver aos ricos, como
se fossem estes que, sozinhos, tivessem enriquecido, como se, em época de
robots e computadores, se preparassem para serem os seus únicos beneficiários.
É uma excelente notícia quando a Troika se vai embora.
3. Voltarei a este texto para retomar
de forma critica a comparação que J. Constâncio faz com Darwin, que falha quer
com este quer com Peketty, mas não quis esperar por tão boa notícia.
http://filosofiamaisciencias2.blogspot.pt/2011_10_01_archive.html
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