Na Poética de Aristóteles,
que li detalhadamente na tese que o teu Pai apadrinhou institucionalmente,
salvando-me,
a definição de tragédia, de teatro,
privilegia o texto do poeta, a lexis, e o argumento, o muthos,
com os caracteres éticos das suas personagens e o pensamento,
tudo coisas que se podem ler em casa,
e desconsidera como não poética a cena teatral, a encenação, os actores.
Tu és com a tua Cornucópia
– a abundância cultural a transbordar sobre nós –
a conciliação
do que colhes dos poetas
e da encenação que crias com a Cristina Reis.
Sem falar nos textos dos Catálogos que nos deixas e aos que vierem,
em que enches as medidas de Aristóteles e vais mais além, de cada vez,
Tu recapitulaste ao longo destes 43 anos
uma boa parte da tradição cultural do Ocidente
nos teus gestos e voz, na tua memória inteligente.
Não leste apenas como qualquer um de nós numa biblioteca,
mas disseste-a, fizeste-a como coisa tua.
Se o poeta é um fingidor,
Tu foste o fingidor de inúmeros fingidores
que nos abriram os olhos e os ouvidos e os horizontes.
E de tanto e tão diverso fingir de corpo inteiro,
te fizeste a ti, Luís Miguel, o verdadeiro.
Natal de 2016
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